segunda-feira, 6 de maio de 2002

Entrevista - Kelly Santos

ENTREVISTA



O bate-papo é com uma das maiores pivôs brasileiras!

KELLY


1) Kelly, pra começar onde e quando você nasceu? E como teve contato com o basquete pela primeira vez?

Sou natural de São Paulo, capital, em 10 de novembro de 1979. Minha mãe diz que foi chamada uma junta médica para me ver, porque nasci com 68 cm e 5,5 kg.



O medico Dr. Eduardo Gomes, da Clínica Anna Aslan, sempre investiu em atletas. Então ele me deu um tratamento para emagrecer e me apresentou ao mundo do basquete.


2) Gostaria que você falasse um pouco da sua trajetória nas categorias menores até chegar a seleção juvenil: os clubes, os técnicos, os títulos, etc.

Em 1993, comecei no Leite Moca, com a técnica Nilcéia Ravanelli, fomos 3º lugar no mirim. Em 1994, fui para a Ponte Preta, com o técnico Paulo Bassul. O nível técnico das meninas era muito melhor que o meu, jogava pouco, mas fui campeã Infantil. Em 95 e 96, já jogando mais, fui campeã infanto. Em 96, pela seleção juvenil, joguei sul-americano e mundial. Em 97, fui eleita a melhor juvenil, estreei na seleção adulta (Copa América, no Ibirapuera), e fui campeã paulista adulta pela Microcamp/Campinas. Em 98, já no BCN/Osasco, fui Campeã Juvenil e Adulto e disputei o Mundial da Alemanha com a seleção.

3) Como você foi parar na Microcamp/Campinas?

Na verdade eu já estava lá no meu canto jogando e a Microcamp que chegou e levou um super time para jogar a divisão A1do Paulista. Foi muito bom porque fui ganhando mais experiência. Havia jogadoras mais velhas do que eu para bancar o adulto, mas eu, com muita vontade e persistência, consegui um espaço e depois fui só crescendo.

4) Seu torneio de maior destaque pelo juvenil foi o Mundial de 1997, em Natal. Gostaria que você falasse um pouco da experiência de disputar o torneio, das suas colegas de quadra e do resultado - o quarto lugar.



A equipe já estava bem entrosada, pois já havíamos disputado sul-americano, pan-americano e alguns amistosos. O quarto lugar é ate hoje a melhor colocação do Brasil em Mundiais Juvenil. Não ficamos em 3 lugar por pouco.

5) Como você avalia a sua evolução e a de suas companheiras que em 1997 disputaram esse Mundial, em Natal; em relação às jogadoras dos outros países que também disputaram o torneio e que agora você reencontra nas seleções adultas?



A minha evolução é clara, pois naquela época eu era muito pesada e lenta. Meu jogo se resumia em pegar rebotes, hoje jogo de 4 e 5 estou muito mais rápida e com o chute de meia distância certeiro.



Destaco a australiana Lauren Jackson, que hoje é o ponto mais forte da seleção australiana, ela realmente desequilibra.


6) Seu primeiro torneio na seleção adulta foi a Copa América de 1997? Fale um pouco desse campeonato e da sua estréia no adulto.



Na minha primeira seleção, confesso que me sentia em casa pois já trabalhava com a Paula a Branca, e o técnico Barbosa no clube (MICROCAMP). O campeonato foi equilibradíssimo: as cubanas em plena forma, os Estados Unidos como sempre com um elenco brilhante. Mas o nosso conjunto e criatividade prevaleceram e fomos campeãs.

7) Em 1998, você disputou o Mundial da Alemanha. Fale um pouco deste torneio e das suas principais lembranças dele.



Estados Unidos estavam com o time completo, mas cheguei a acreditar que a Rússia poderia ganhar a final pois vinha com jogadoras como a Elena Baranova em excelente fase, mas não aconteceu.

Acredito que tivemos pouco tempo de preparação e disputamos a medalha de bronze com a Austrália, um time que vinha numa crescente.


8) Nos clubes, você se transferiu para o BCN-Osasco. Fale um pouco da sua trajetória em Osasco e das suas principais conquistas no clube paulista.



Fui para o time Juvenil do BCN em 98, ficando no banco do adulto no primeiro ano. Mais fui para a seleção e tive um bom destaque e voltei para o BCN com a oportunidade de assumir o time como titular e aproveitei.

No BCN , fui bi-campeã paulista, campeã mundial interclubes e participei do jogo em que o BCN bateu a fortissíma seleção da WNBA, quando começou a sondagem para que eu fosse jogar lá.

9) Em 99, você teve uma participação mais efetiva na seleção. Fale um pouco da sua participação nos Jogos Pan Americanos e no Pré-Olímpico.



Eu vinha de um ano no banco do BCN, com sede de jogar tive que superar várias dificuldades, como falta de ritmo de jogo. Mas é assim que se evolui: se superando.

No Pan-americano, começamos muito bem, mas estávamos com um time novo, e bobeamos na semi final contra o Canadá. Estávamos ganhando e perdemos em oito segundos. Foi uma lição inesquecível.


No Pré-Olímpico, com o time mais completo, também tive a oportunidade de entrar como titular, perdemos para Cuba na final por 3 pontos, mas garantimos a classificação para as Olimpíadas.

10) O ano de 2000 te trouxe a medalha de bronze olímpica. Como foi a experiência de disputar sua primeira Olimpíada? Qual foi a sensação de disputar seu primeiro jogo em Sydney?

É sem duvida gratificante participar de uma Olimpíada. Jogar o primeiro jogo e depois ganhar a medalha só foi o resultado de muito trabalho.

10) Você se transferiu para o Vasco, após a extinção do basquete no BCN. Como foi participar do projeto do Vasco? Como foi reencontrar a técnica Maria Helena Cardoso?



Na verdade o projeto vascaíno foi de muita boa intenção, trazendo jogadores olímpicos, mas acredito que o clube não suportou. Maria Helena é realmente uma excelente técnica. Ela encaixa o time, indiferente às dificuldades.

11) Suas principais conquistas no Vasco foram o Carioca e o Nacional. Gostaria que você falasse desses torneios.



O Estadual do Rio foi um campeonato, em que a final contra o time da Mangueira foi disputadissíma. Ganhamos no 5º e último jogo.

O Nacional também, mas com um sabor todo especial, pois foi o primeiro campeonato nacional que ganhei. Fiz parte da seleção de ouro, ao lado da Albena, Janeth e Helen.


13) Em 2001, você foi draftada para a WNBA. Como foram os bastidores desse processo? Você esperava chegar tão cedo à WNBA?

Eu fui inscrita e eles me escolheram, nada de excepcional nos bastidores. Eu sempre tive muita esperança e confiança em Deus de ser escolhida pelos bons jogos que fiz pela seleção.

14) Como foi sua experiência na WNBA? Estar num time com jogadoras que você já conhecia (Elena, Claudinha) te ajudou? Como você avalia sua participação no Detroit Schock?

Sem dúvida alguma aprendi demais. O contato internacional que ganhei lá , me favoreceu muito. Estar num time com jogadoras que já conhecia não me ajudou muito . Na WNBA, o que ajuda é o seu próprio desempenho . Avalio que me sai bem, mesmo tendo poucas oportunidades, aproveitei todas.

15) Você foi uma das jogadoras que mais resistiu ao processo de desmanche do time do Vasco. Como foram os últimos meses no Rio e como foi a decisão de ir para Ourinhos?

Voltei da WNBA para ficar no Vasco , pois eles cumpriram com seus compromissos comigo, mas chegando lá vi que as coisas não estavam muito bem. Recebi uma proposta de Ourinhos e aceitei.

16) Você teve um adaptação rápida ao time de Ourinhos e logo se tornou um dos pontos de equilíbrio do clube. Você esperava ter essa facilidade? Temia cobranças e o fato de ter entrado no decorrer do Paulista?

Na verdade tive que me adaptar rápido , pois Ourinhos é um time com característica de muita velocidade e já esperava isto. Num time que tem uma torcida como a de Ourinhos é natural a cobrança.

17) Um aspecto que chama atenção depois da sua mudança para Ourinhos é o aumento na produção ofensiva. Essa mudança aconteceu por quê? Naturalmente ou por opção do técnico Edson Ferreto?

Naturalmente, fui me entrosando com as outras jogadoras, e o Ferreto me dá muita liberdade ofensiva.

18) E a adaptação à cidade de Ourinhos e ao estilo do técnico Edson Ferreto, como tem se dado?

A cidade é muito tranqüila , não tive dificuldade nenhuma para me adaptar , pois também sou muito tranqüila Os treinos do Ferreto são muito intensos , exigindo muita velocidade e atenção.

19) Você já sofreu assédio de equipes européias, mas resistiu. Durante a crise no Vasco, uma equipe da Espanha te queria, e agora recentemente surgiu o boato de que uma equipe italiana planejava sua contratação. Houve mesmo esses contatos? Se sim, por que você preferiu ficar?

Realmente houveram os contatos. Preferi ficar, pois gostaria que meu trabalho fosse reconhecido no meu pais. A experiência internacional eu já estou adquirindo na WNBA.

20) Agora em maio, você estará retornando à WNBA? Quais são suas expectativas para este ano, em relação ao seu time e ao seu aproveitamento nele?

O meu time, o DETROIT, dispensou a australiana Rachel Sporn, por isso acredito que terei mais espaço , lembrando que a WNBA é sempre uma caixinha de surpresa , tudo pode acontecer.

21) E em Ourinhos, como você acha que o time está reagindo às mudanças no elenco em relação à temporada passada? Você acha que o time pode bater a favorita Unimed-Americana?

O time esta reagindo bem às mudanças no elenco, pois a base permaneceu. Acredito que nosso time está numa crescente com reais chances de surpreender.

22) Você deve estar entre os nomes que Barbosa pretende levar ao Mundial da China este ano. Quais são suas expectativas para seu segundo Mundial? Como você acha que o Brasil pode se sair desta vez?



Estou treinando para dar o máximo de mim neste Mundial .A seleção brasileira é bem homogênea com reais chances de pódio.

23) Há alguns anos atrás, sofríamos muito com a ausência de pivôs. Hoje temos uma geração excelente de pivôs, que inclui você, Alessandra, Cíntia, Kátia Denise, Geisa, Érika Rante, Érika, Êga, Simone Lima, Lígia, Eliane, Gilmara, Patrícia Mara, entre outras; todas igualmente jovens. Por que você acha que houve essa explosão na sua posição?



A característica do nosso basquete sempre foi a velocidade , com destaque para as laterais, porém devido ao jogo internacional, foi necessário trabalhar mais com os pivôs. E a partir daí, conseguimos sempre ficar entre as melhores seleções. Vale dizer também que o basquete é um jogo de conjunto. Percebe-se que não é só fazer ponto , mas também são importantes os rebotes e o jogo defensivo dos pivôs. Um forte jogo dentro do garrafão resulta em eliminar o adversário com faltas. Sabendo disto, acredito eu que os técnicos começaram a garimpar novos talentos nesta posição, dando mais atenção aos pivôs, e consequentemente aumentando o nível técnico dos nossos pivôs.

24) Não posso deixar de fazer essa pergunta para esclarecer uma paranóica idéia criada no meio basqueteiro(Rá-rá-rá!) Quantos irmãos você tem? Algum destes tem um site sobre basquete?

Tenho duas irmãs e um irmão, sendo que dois deles no último ano me deram uma grande alegria . A Keila se formou em Letras e o Átila em Direito.

Enfim , nenhum dos meus irmãos tem um site de basquete. Trabalham todos em outras áreas bem distintas.


25) Bate-Bola para encerrar a conversa:

Uma cidade: Nova Iorque

Uma comida: Chinesa



Um filme: "Amor além da Vida"

Uma música: Gospel

A bola que eu chutei e caiu: Medalha de bronze em Sydney

A bola que eu chutei e não caiu: Jogo no pan-americano contra o Canadá , perdemos a semifinal em 8 segundos.

A minha maior virtude em quadra: Rebote e tranqüilidade

O meu pior defeito em quadra: o arremesso com a mão esquerda

Uma quadra: Palace, em DETROIT

Uma colega: minha mãe

Uma estrangeira: a Lisa Leslie

Uma marcadora: a Nádia

Um(a) técnico(a): Barbosa

Um time: o Lakers

Um título: o de Campeã da Copa América

O jogo que eu não esqueço: O jogo em Sydney, contra a Rússia.

O jogo que eu tento esquecer: Contra o Canadá no Pan americano de Winipeg

Um sonho: ser campeã no Mundial

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