sexta-feira, 18 de outubro de 2002

CBB QUER REPATRIAR JOGADORAS

(Cláudio Nogueira / O Globo)

Um desafio a mais para o basquete brasileiro. Antes mesmo do sétimo lugar no Mundial feminino, na China, colocação abaixo da que se esperava, o presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Gerasime Bozikis, o Grego, vinha idealizando o projeto de repatriar as meninas brasileiras que atuam na WNBA, a liga americana profissional, de maio a outubro.

O obstáculo ao sonho é a crise econômica brasileira. Entretanto, Grego crê que se forem mantidas no Brasil, as jogadoras poderão treinar juntas mais tempo. O objetivo é formar uma seleção forte para conquistar a vaga das Américas, visando às Olimpíadas de 2004.

A idéia é recorrer a patrocinadores que apóiem a CBB. Os contratos têm de ficar prontos até dezembro e vigorar de 2003 até 2006. Com o apoio, a CBB pagaria às jogadoras entre maio e outubro, para que não fossem jogar na WNBA.

— As meninas manifestaram o desejo de ficar no Brasil e de treinar juntas por mais tempo. Vamos buscar os patrocinadores para termos os recursos necessários. Constatamos que as que mais jogam na WNBA chegam esgotadas, e as que quase não jogam vêm fora de forma física e técnica — afirmou Grego.

HELEN E JANETH VIBRAM COM A IDÉIA

O dirigente conversou com as jogadoras sobre o assunto pela primeira vez antes da segunda fase do Mundial, em setembro, na China. Segundo ele, a aceitação foi total, e Janeth, em nome do grupo, disse que isto seria o ideal. Grego espera manter as meninas no Brasil com verbas da Lei Piva (destina recursos das loterias ao Comitê Olímpico Brasileiro, que os repassa às confederações) e patrocínios.

Na atual temporada, foram para a WNBA Janeth, Helen, Érika, Iziane, Adrianinha, Claudinha, Kelly, Cinthia Tuiú e Alessandra, que depois seguiu para a Coréia do Sul. A idéia é manter as meninas no país até 2006, ano do Mundial feminino no Brasil.

— Em média, cada menina ganha US$ 25 mil por temporada, descontados os impostos. Sendo nove, são US$ 225 mil, o que dá uma média de US$ 45 mil mensais. Para ficarem no Brasil, elas aceitariam receber pouco menos — garantiu Grego.

Se depender das jogadoras mais famosas do país, Janeth, tetracampeã da WNBA pelo Houston Comets, e Helen, do Washington Mystics, a idéia tem tudo para dar certo.

— A WNBA é curta, mas paga bem. É difícil abrir mãos de um bom salário e da estrutura altamente profissional. Aqui, seria necessário um forte patrocínio para que as meninas pudessem ficar. O próximo ano é importante porque tem Pré-Olímpico e Pan-Americano. Então, é ótimo este projeto. O projeto é sério. Na seleção, jogamos por amor à camisa, mas sem apoio financeiro não dá para ficar quatro, cinco meses no Brasil — afirmou Helen.

JANETH ESTÁ DISPOSTA A SER GAROTA-PROPAGANDA DOS PATROCINADORES

— Também será ótimo se este projeto vingar e se houver patrocínio a novas equipes. Faço tudo pelo meu esporte, e com certeza eu faria comerciais dos patrocinadores. Mesmo tendo quatro títulos na WNBA, vale a pena trocar a liga pelo projeto. Meu sonho é o ouro olímpico em 2004 — enfatizou, sem dar certeza se continuará até 2006.

Sobre os Pré-Olímpicos de 2003 — o Brasil é candidato a sediar o masculino em agosto, e o feminino em setembro — Grego não adiantou mudanças nas comissões técnicas. Até novembro, o trabalho está em avaliação. Mas fez um alerta:

— No masculino, são três vagas para as Olimpíadas. Uma tem de ser nossa! No feminino, é uma vaga olímpica, e ela tem de ser nossa! Tanto no masculino quanto no feminino, vamos nos classificar. Quem não pensar assim, seja jogador, treinador ou quem for, fique em casa vendo pela TV ou lendo pelos jornais! — enfatizou.

ENTIDADE ESTÁ CONSULTANDO EMPRESAS

Para concretizar o projeto, a CBB está contactando de 25 a 50 empresas, na expectativa de acertar com três a cinco patrocinadores que apóiem a entidade.

— Estamos oferecendo espaço nas camisas das seleções masculina e feminina, placas ao redor das quadras dos ginásios nos campeonatos nacionais, e a própria permanência das atletas — explicou Grego, sem informar a quanto chegaria o patrocínio.

Em 2003, no feminino, a prioridade é o Pré-Olímpico, em setembro, além do Pan-Americano, da Copa CBB 70 Anos, com o Brasil e mais três países, a serem escolhidos entre Austrália, Espanha, Grécia, Coréia, Japão e China. Haverá ainda jogos-desafio.

Sobre o Mundial feminino de 2006, a princípio, as sedes seriam Rio, São Paulo, Belo Horizonte e São Bernardo do Campo, onde há moderno ginásio para sete mil pessoas. No Rio, os jogos seriam na arena a ser erguida no Autódromo de Jacarepaguá para o Pan-Americano de 2007.

— Queremos um Mundial moderno e com público em todos os jogos, não só os do Brasil. Vamos fazer promoções junto a escolas e consulados — antecipou Grego.

Em 2004, ano olímpico, a ênfase será a preparação para a medalha em Atenas; em 2005, a preparação para o Mundial; e em 2006, o Mundial no Brasil.

No masculino, em 2003, o Brasil joga o Pré-Olímpico, o Pan-Americano, a Copa 70 Anos da CBB e o Super Four. Membro de uma comissão da Federação Internacional de Basquete, Grego vai propor, em novembro, que sejam criadas uma Liga Mundial de Basquete de seleções e de clubes, para que o esporte não tenha apenas duas competições de maior nível, o Mundial e o Torneio Olímpico.

Grego tem priorizado os campeonatos de seleções estaduais de base e a descoberta de novos talentos.

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