terça-feira, 24 de dezembro de 2002

Melk Noel

O Bom Velhinho escreveu o texto de hoje de Melchiades Filho na Folha. E, quem diria, Papai Noel é basqueteiro mesmo!


Toque o sino

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE


Caro Teruã, pelas minhas contas você já tem 12 ou 13 anos. Há tempos você não deve acreditar nessas presepadas, possivelmente nem se lembra da última vez em que escreveu para mim e provavelmente se sentirá envergonhado diante dessa tardia resposta (ainda bem que já começaram as férias escolares, senão os colegas não sairiam do seu pé...).
Bem, você pode até duvidar, mas eu continuei acompanhando, daqui, seus jogos em Goiânia. Em alguns, achei que você foi muito fominha, insistiu no lance individual, forçou demais.
Mas, talvez por causa da minha lustrosa careca, eu admiro quem tenha topete. Garoto, que fome de bola! Que tino para a cesta! Corrija-me se me engano, mas você papou os troféus de artilheiro nos últimos três Estaduais. Ou seriam os últimos quatro?
Pode ficar orgulhoso. Um dia Goiás teve participação de relevo no basquete no país. O Vila Nova, por exemplo, foi campeão nacional há quase 30 anos, com Joy, Adílson, Danilo, César, Fausto & Cia., na apoteose da carreira do legendário técnico Kanela.
Reconheço, dada minha lapônia ingenuidade, que à época acreditei que tal façanha abriria as portas para a modalidade.
Mas os grandes projetos nunca decolaram. Foram fátuas, ficaram perdidas na história as iniciativas como a do Jóquei Clube, ainda nos anos 70, e a do Vila Nova, com Hortência fora e Helen dentro da quadra no final dos 90.
Aliás, o mesmo destino aguarda o incensado dueto Ajax/Universo, por ora turbinado pela presença de veteranos estrelados como Ratto, Vanderlei, Rogério e Sandro Varejão, mas que já se encontra comprometido pelo desequilíbrio entre receita e despesa.
A bola ao cesto goiana segue nas mãos de quatro ou cinco clãs. Em alguns casos, há a condenável promiscuidade de interesses entre o esporte e o poder público.
Como explicar, afinal, que o Estado tenha desembolsado mais de R$ 1 milhão, quase R$ 2 milhões, na reforma do ginásio Rio Vermelho e que não haja um tostão para o fomento da modalidade?
Ou que tenha sido erguida outra bela quadra, em Anápolis, e não se consiga organizar eventos, nenhum tipo de competição?
Sim, os ventos gelados me trouxeram a notícia da implosão dos campeonatos das categorias de base. Porque faltaram R$ 7.500!
Quase arranquei a barba quando soube que a Federação Goiana e a prefeitura da capital só tinham catado R$ 2.500 para árbitros e mesários, um quarto do preciso. Ainda imaginei que o espírito natalino prevaleceria. Sobretudo porque juízes e mesários aceitaram receber R$ 16 por jogo, quase metade do que em 2000. Os torneios estavam garantidos, supus. A molecada, 200 atletas em cinco categorias, iria pôr à prova os seis, sete meses de treinos.
O primeiro baque veio ainda em novembro, com o cancelamento do returno, mais de 50 partidas. O segundo, na semana passada, com o dos mata-matas pelo título. Que embrulho!
Parece-me, Teruã, que seu time foi nomeado campeão nessa lambança. Mas que, evidentemente, você não conteve a frustração.
Por isso resolvi inverter a ordem do correio e escrever. Não, não espere um saco mais cheio hoje à noite. Eu só queria te assegurar que, em Goiânia ou não, o basquete é -e sempre será- um presente especial. Feliz Natal.

Embrulho 1

Vale lembrar, as semifinais do Nacional feminino e do Paulista masculino começam somente depois das festas. Os emparceiramentos são, respectivamente: Americana x Ourinhos e São Paulo x Santo André; Ribeirão Preto x Franca e Mogi x Araraquara.

Embrulho 2
O Botafogo ganhou nas quadras, mas não vai levar. Sem patrocínio, entregou de bandeja a vaga no Nacional para o Vasco do desempregado-por-alguns-dias Hélio Rubens. Parece que o inferno astral do treinador está passando.

Embrulho 3
A Confederação Brasileira anuncia na sexta-feira o novo técnico da seleção masculina. O presidente Grego tinha dito que preferia aguardar o final dos Estaduais antes de anunciar o nome. Como o único torneio encerrado foi o Carioca...

E-mail melk@uol.com.br


Fonte: Folha de São Paulo

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