sexta-feira, 24 de janeiro de 2003

Maria, Maria

O basquete pode festejar: nasceu Maria

LUÍS AUGUSTO SÍMON


A jogadora do São Paulo/Guaru, grande revelação do Campeonato Brasileiro, encerrado domingo em Americana, está chamando a atenção por seu estilo polivalente, atrevido e corajoso, que lembra muito Hortência e Paula nos seus melhores momentos. Especialistas não duvidam: seu lugar é na Seleção



Maria Cristina Silva, ou simplesmente Maria, foi um dos destaques do São Paulo/Guaru, que conquistou o Campeonato Brasileiro Feminino de Basquete, domingo, em Americana. A ala de 22 anos (1,86 m e 77 quilos) jogou 32min40s, marcou 15 pontos, conseguiu cinco rebotes e recuperou três bolas. Era sempre com ela a transição rápida para o ataque, fator fundamental para que a equipe liderada por Janeth conseguisse o triunfo sem maiores problemas. Em alguns momentos, Maria lembrou as arrancadas de Hortência nos seus melhores momentos. Polivalente, foi vista carregando a bola, driblando, recuperando rebotes e tendo coragem para decidir nos momentos difíceis.



Firme na luta pelos rebotes, Maria mostrou também muita velocidade nas infiltrações. Foi para cima das adversárias durante todo o jogo. Ajudou, inclusive, Janeth, a estrela que veio da WNBA, a dividir a responsabilidade nos momentos mais complicados da decisão do Campeonato Brasileiro.

"Eu sou abusada mesmo. Faz muito tempo que o Alexandre Cato (técnico do time) e a minha família pedem para eu atacar. Desta vez, resolvi aceitar o desafio. Encarei mesmo."

Maria começou como pivô e só agora está jogando como ala. Paula, considerada a mais inteligente e ardilosa dentre todas as jogadoras do basquete brasileiro, não foi ala por causa de sua estatura, mas alternou de posição ao longo da carreira. De ala insinuante, capaz de penetrações incontroláveis - como a infiltração conduzindo a bola para a cesta com apenas uma mão, sua marca registrada -, passou no final da carreira a armadora, sendo o cérebro da Seleção Brasileira e dos times por onde passou.

"A briga no garrafão está muito dura e o Cato achou que eu poderia render mais na ala. Eu ajudo nos rebotes e tento as infiltrações. Agora, nos últimos jogos, tenho conseguido fazer o que ele pede para mim."


Jogando mais nas decisões

Com Maria jogando fora do garrafão, Cato, na verdade, não apenas 'desafogou' o seu time, como deu a ele opção importante no momento de decidir as jogadas de ataque.

Com os 15 pontos que marcou na última partida, Maria superou em muito a sua média de 8,1 pontos durante o Campeonato Brasileiro. Ela explica o motivo, com simplicidade:

"No começo, estava em má fase, não rendia bem, mas tem outro motivo: quando o jogo é de final, quando vale o campeonato, a gente rende mais. Em todo esporte, acho que é assim."

O desempenho na final do torneio nacional levou analistas e torcedores a começarem a falar em seu nome, até então desconhecido, para futuras convocações da Seleção Brasileira. O técnico Antônio Carlos Barbosa estava presente à finalíssima com membros de sua comissão técnica.

Maria diz que está pronta a aceitar o chamado, se ele vier.

"Um campeonato como esse faz a gente aparecer mais e várias pessoas começaram a me elogiar. Eu me sinto bem e em condições de assumir essa responsabilidade."

Para o treinador Alexandre Cato, a hora é de Maria.

"Ninguém tem mais dúvidas de que ela foi a revelação do campeonato. Como serão chamadas 26 jogadoras, acho que não há motivo para que a Maria fique de fora. Agora, quanto a ficar entre as 12 que irão ao Pan-Americano é uma questão do gosto do técnico. Talvez ela tenha de consolidar ainda algumas qualidades."

O arremesso é o ponto a ser melhorado, segundo Cato.

"Ela tem muita potência, velocidade e está melhorando muito em todos os fundamentos. Marcou muito bem a Helen, está com bom drible e falha ainda no arremesso. Vamos melhorar isso."

Maria mostra-se uma entusiasta da participação de clubes profissionais de futebol nos esportes amadores.

"A gente consegue um destaque muito maior, há mais procura de jornalistas, uma cobertura maior. A torcida é diferente. No começo, não entendiam nada do jogo, mas com o tempo foram tomando conhecimento das regras e nunca deixaram de incentivar a gente. Foi uma experiência muito legal ser tão aplaudida assim."


Fonte: Jornal da Tarde

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