terça-feira, 21 de janeiro de 2003

Melchiades Filho

Domingas

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Foi um domingo para a história do basquete nacional.
Foi o domingo de Ribeirão Preto, que chegou invicto à conquista do Estadual masculino, uma gloriosa série de 39 vitórias.
Foi de Guarulhos, que finalmente saiu do zero com o triunfo no Brasileiro feminino.
E foi, por que não?, de Araraquara e Americana, cidades que desafiaram o imobilismo, que acolheram projetos ousados nos últimos anos e que, hoje, devem aplaudir os vice-campeões.
O domingo embalou o técnico Lula, que começa, com expectativas redobradas pela invencibilidade, seu trabalho na seleção.
Embalou Chaim Zaher, o presidente do COC, rede de ensino que só cresceu após entregar nome e estrutura à equipe de Ribeirão Preto, cada vez mais influente na Confederação Brasileira.
E embalou os cartolas do São Paulo, que, lucrando no primeiro torneio de parceria com Guarulhos, reativaram os planos além-futebol dos clubes da capital.
Do domingo, Renato saiu como o melhor ala do país -e como candidato a líder emocional e tático de sua geração. Com apenas 24 anos, o mais velho dos 12 atletas do time ribeirão-pretano brilhou nos mata-matas. Terminou como cestinha, mas esteve consistente nos outros fundamentos.
E Janeth saiu do domingo com seu terceiro título nacional e (ainda) como a melhor ala do país. Aos 33 anos, a mais velha das 24 jogadoras na decisão destacou-se não só pela artilharia, mas pelo comando em quadra. Conteve o ímpeto de Érika e transformou a pivô em uma força sem paralelo nas quadras do Brasil (ah, se esta acertasse os lances livres...).
Foi um domingo vital para a carreira de Arnaldinho. Convertido em "antiCristo" pela torcida adversária, o armador comprou briga e mostrou, novamente, a importância das infiltrações no basquete. Foram seus lances livres, 13 em média por jogo, que sustentaram Araraquara nos três confrontos (imagine se os árbitros não fossem tão lenientes com a marcação de Ribeirão Preto...).
E o domingo pode ter sido vital para a carreira das irmãs Luz. Se sugeriu que a contusão de Helen está superada, revelou também que o inferno astral de Silvinha (1 arremesso certo de 12!) não tem data para acabar.
O domingo provou que o Brasil perdeu a mão nos chutes de três pontos. Confira a pontaria dos finalistas: 26,8% (Ribeirão Preto), 33,3% (Araraquara), 27,7% (Guarulhos) e 30% (Americana).
O domingo indicou que o preparo físico desequilibra cada vez mais. Os campeões paulistas fizeram da transição defesa-ataque o motor para virar no último quarto as últimas duas partidas. Érika & Cia. mataram nos rebotes (103 x 82) o sonho de Americana.
O domingo mostrou um futuro nebuloso. A conquista sem derrotas de Ribeirão Preto é sinal inequívoco da falta de competitividade do Paulista. O sucesso de Guarulhos, um time de aluguel montado na véspera da competição, desestimula projetos de investimento de longo prazo.
De todo modo, para o bem ou para o mal, é lamentável que um dia tão especial não tenha sensibilizado os dirigentes brasileiros. Ao agendar as duas partidas para o mesmo horário, eles obrigaram o basqueteiro a testemunhar a história pela metade.
Desperdiçaram o domingo. Agora, teremos de engolir as segundas-feiras.

Brasil 1
Nem no dia do título inédito de Guarulhos a CBB corrigiu a deselegância de anunciar em seu site o Nacional masculino, que começa no próximo domingo, como a "melhor competição" do país.

Brasil 2
Ouvidos pela ESPN Brasil, os 16 técnicos elegeram Fúlvio (Mogi), Alex (Ribeirão Preto), Renato, Pipoka (Araraquara) e Alírio (Mogi) para a seleção do Estadual. Alguém ainda vai insistir que o campeonato foi excelente?

Brasil 3
Da ESPN Brasil, aliás, vem a boa notícia de que será transmitida a partida de sábado (8 de fevereiro, 19h) do All-Star Weekend, o fim de semana que reúne os melhores da temporada da NBA. O ala-pivô brasileiro Nenê (Denver) foi convocado e deve ser titular dos calouros contra a seleção dos segundoanistas.


Fonte: Folha de São Paulo



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