quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

Repatriamento???

Erica Akie, no Jornal da Tarde e Marta Teixeira, na Gazeta Esportiva, escrevem duas ótimas matérias hoje sobre o êxodo de atletas para o exterior, a WNBA,o Pré-Olímpico e a proposta de repatriamento.


WNBA: uma real ameaça à vaga olímpica

ERICA AKIE


Êxodo das jogadoras brasileiras para a Europa, com o término do Nacional de Basquete - Helen e Silvinha embarcam hoje para a Espanha -, não vai atrapalhar a preparação da Seleção, que na Copa América, em setembro, tentará vaga olímpica. Mas se elas resolverem esticar na WNBA, ficará complicado


Com o término do Campeonato Nacional Feminino de Basquete, várias atletas fazem as malas e partem para a Europa - de lá, geralmente a rota é redirecionada para os Estados Unidos, onde é disputado o campeonato de melhor nível técnico e com os melhores salários do mundo - a WNBA. Hoje, mais duas atletas embarcam para a Europa: Silvinha e Helen Luz, que vão jogar na Espanha.

Assim que terminar a temporada européia, em meados de maio, Gerasime "Grego" Bozikis, o presidente da Confederação Brasileira de Basquete, tentará trazer as jogadoras direto da Europa para o Brasil - com salário -, para que se concentrem para a disputa da Copa América, em setembro, que dará uma vaga para a Olimpíada de Atenas/2004. Até agora, o técnico Antônio Carlos Barbosa e as atletas ainda não sabem muitos detalhes do que Grego pretende fazer para manter o grupo treinando no Brasil. As jogadoras dizem que vão esperar o presidente anunciar seu projeto para tomar a decisão de ir ou não para a WNBA.


Êxodo prejudica torneios nacionais

Para Barbosa, o fato de as jogadoras brasileiras irem para a Europa atrapalha os torneios nacionais, mas não a Seleção Brasileira. "Não existe problema de as meninas jogarem fora quando se fala de Seleção. O problema é que o nível técnico dos campeonatos nacionais cai muito sem as estrelas. Mas, em relação à Seleção, isso não atrapalha. A temporada lá acaba antes de junho, quando deveríamos começar os treinos. É a WNBA que fica totalmente fora de qualquer calendário da Federação Internacional."

A armadora Helen Luz, vice-campeã brasileira pela Unimed/Americana, que viaja hoje para Zaragoza, diz que tentará resistir à tentação da WNBA:

"Normalmente é automático que todo mundo termine a temporada na Europa e vá jogar a WNBA. Mas este ano o Grego vai tentar repatriar as jogadoras. Vou esperar a decisão dele. Sei que é um ano importante - só tem uma vaga a ser disputada. Procuro colocar a Seleção em primeiro plano."

Mas a jogadora de 30 anos sabe que em breve terá de enfrentar um dilema. "Na Europa, não ganho muito mais, mas ganho em dólar. Não vejo esses campeonatos só pelo dinheiro, mas pelo desafio profissional de encarar coisas diferentes das quais enfrento no Brasil. Lá, a competição é forte e as estrangeiras são valorizadas."

Helen acha importante poder jogar a WNBA. No ano passado, atuou pelo Washington Mystics. "A WNBA é boa para nós porque em um período de três meses ganhamos muito bem. No meu caso, que estou indo para o terceiro ano, recebo o dobro do que ganho no Brasil. No caso de outras que estão lá há mais tempo, como a Janeth, o salário é ainda maior."

Além do lado financeiro, a armadora diz que jogar nos Estados Unidos é bom tecnicamente: "O Barbosa reclamava de atletas que quando iam para a WNBA só ficavam no banco. Pelo menos comigo isso não aconteceu, mesmo sabendo o quanto é difícil uma estrangeira sobressair-se lá. Os norte-americanos valorizam demais as atletas deles, mas ainda assim eu conseguia jogar metade de uma partida."

A irmã Silvinha, que jogará em Ibiza, preferiu não esperar a CBB. "Ainda não estamos vendo nada acontecer e não podemos ficar esperando. Temos de pensar no futuro. Se o repatriamento realmente vier, será muito válido."

Com Helen e Silvinha, 14 brasileiras jogarão na Europa. A Espanha terá mais representantes: Renata, Kátia Denise, Jaqueline Godói e Flávia. Em seguida, vem a França, com Iziane, Adriana Santos, Claudinha, Mamá e Kelly. Cíntia Tuiú, Adrianinha e Zaine jogarão na Itália.



Fonte: Jornal da Tarde

Tops esperam mais que salário da proposta da CBB

Marta Teixeira


O presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Gerasime Grego Bozikis, já garantiu que a entidade está em busca de patrocínio para bancar a permanência no país das principais jogadoras da seleção brasileira. Mas não é apenas a parte financeira que vai seduzir as atletas na hora de decidir entre permanecer no país ou ir para a WNBA. Na balança, elas colocam também a programação de preparação da seleção para os compromissos de 2003, que inclui o Sul-americano, Pan-americano e o Pré-olímpico.
'De repente, o mais importante não é o valor. Se a proposta for boa, com bons locais de treinamento e um calendário muito bem feito é claro que é interessante', diz a ala Janeth, pioneira na presença brasileira no campeonato norte-americano. Com quatro títulos da WNBA, pelo Houston Comets, a ala diz que sua decisão irá depender do que for oferecido pela CBB e pela liga. 'Meu contrato com o São Paulo termina no meio de fevereiro e ainda estou esperando um contato da WNBA, que normalmente é feito em fevereiro ou março'.

Segundo Janeth, a própria permanência no São Paulo não está descartada. 'A gente sempre dá preferência para negociar com a equipe atual'. A conversa com Grego, só deve ser travada a partir de 6 de fevereiro. Até lá, a jogadora continua o trabalho na frente do Centro de Treinamento que leva seu nome em Santo André e a buscar patrocínio para os times pré-mirim e mirim, que deve disputar torneios oficiais.

Assim como Janeth, a ala/armadora Helen também deixa para o futuro a decisão de permanecer ou não no país. Nesta quarta-feira, ela embarca para a Espanha, onde defenderá o Zaragoza, em sua primeira temporada na Europa. Nos dois últimos anos, ela atuou pelo Washington Mystics, na WNBA, onde conseguiu até o posto de titular.

'Meu contrato na Europa é de três meses e não vai interferir na seleção. Vou perder apenas o Paulista'. A ala/armadora também vai esperar a apresentação da proposta da CBB para definir se fica no país ou repete a experiência na WNBA. Mas ela faz questão de deixar claro que a situação de cada jogadora é diferente neste caso. 'Quando vou para a WNBA jogo. Não sou um caso de quem nem se troca e não entra em quadra. Já conquistei meu espaço, adquiri muita experiência e tive um grande crescimento profissional'.

Helen afirma que 'não troca a seleção por nada', mas que na hora de decidir não é só o fator financeiro que importa. 'Tem outro lado que pesa também, você tem que ver se vai ter oportunidade. Cada um tem que buscar o que é melhor'.

A pivô Érika é outra dividida. Com propostas do Los Angeles Sparks, com quem foi campeã pela WNBA em 2002, e do Houston Comets ela deixa claro que a liga norte-americana está em seus planos, mas que não se pode desconsiderar que coincide com o calendário da seleção. 'Abrir mão da seleção é muito difícil e todo jogador tem o objetivo de continuar no seu país. Mas lá é muito bom para pegar experiência. O problema são as dificuldades financeiras'.

Por enquanto, Érika garante apenas que gostaria de continuar no São Paulo. 'Mas ainda não sentamos para conversar', completa a jogadora, que viaja nesta quarta-feira para visitar a família, no Rio de Janeiro.


Fonte: Gazeta Esportiva

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