quarta-feira, 26 de março de 2003

leila

Nascimento de filho inspira Leila


MARCELO VIANA


Há três anos e meio longe do basquete por causa de grave contusão no joelho, pivô da seleção brasileira voltou a treinar após ter primeiro filho
A pivô Leila Sobral, campeã mundial com a seleção brasileira em 94 e vice da Olimpíada de Atlanta, em 96, luta para voltar a jogar basquete. Há três anos e meio longe das quadras por causa de grave lesão no joelho direito, ela tenta, aos 28 anos, superar seu drama particular e o ostracismo desde que abandonou o esporte. Mãe há sete meses, e sete quilos acima de seu peso ideal, ela voltou a treinar por conta própria e diz encontrar no filho Davi força para continuar sua batalha pessoal. “Tenho muita fé de que eu vou voltar a jogar.”

A vida de Leila começou a mudar em 99, quando torceu o joelho nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, no Canadá. A pivô disse que foi tratada à base de gelo e que só passou por ressonância magnética 20 dias depois, já no Brasil. O exame constatou lesão de cartilagem, que só uma cirurgia poderia reparar. A partir daí, seus problemas aumentaram.


Perda de confiança
A Confederação Brasileira de Basquete (CBB) queria que ela fizesse a cirurgia no Rio com o médico do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), o já falecido Arnaldo Santiago. Leila, porém, se recusou. “Perdi a confiança nele, porque não fui bem atendida no Canadá”, garantiu. Desempregada e sem dinheiro, já que havia voltado ao Brasil após levar calote no basquete grego, ela ficou dois meses parada. “Eu mal conseguia subir escadas. Minha perna contundida ficou 7 cm mais fina do que a outra”, lembrou. Dois meses depois, Leila foi contratada pela Knorr que, liderada pela pivô Karina, havia montado um time em Campinas. O novo clube bancou a cirurgia e o tratamento. Três meses depois, veio a desagradável surpresa: o patrocínio não foi renovado, e o time foi desfeito.

Apesar disso, Leila continuou o trabalho de recuperação na clínica do fisioterapeuta Nivaldo Baldo, bancado pela CBB. Mesmo quando a entidade deixou de pagar o tratamento, três meses depois, Baldo ofereceu seu serviço gratuitamente, mas Leila não quis. “Minha mãe tinha ido embora de Campinas e eu não tinha como me manter na cidade”, argumentou a pivô, que decidiu jogar tudo para o alto e abandonar o esporte. “Fiquei revoltada com a aquela situação e com a falta de apoio.” O passo seguinte foi abrir processo por perdas e danos contra o COB.

Além da limitação física, Leila contou que viu seu patrimônio ir para o ralo. Passou a depender do marido, que é pintor de carros. O casal e o filho Davi moram numa casa alugada em Santo André. Nas paredes e cômodas, as únicas lembranças de um passado não muito distante de glórias: troféus e medalhas, entre elas a de ouro no Mundial da Austrália, em 94, e a de prata na Olimpíada de Atlanta, em 96. “Vou dar a volta por cima”, garante.


Jogadora perde ação na Justiça contra COB


Advogado pedia R$ 13 milhões

Leila perdeu a primeira batalha jurídica contra o COB, que tramita na 3ª Vara Cível de Campinas desde o ano 2000. Em sentença ainda não publicada, o COB foi inocentado da ação por perdas e danos movida pelo advogado da jogadora, Pedro Adib. Eles pedem indenização de R$ 13 milhões.

Esse valor foi calculado tendo em vista propostas que a pivô teria recebido de clubes europeus antes da contusão. Levando em consideração sua vida útil como atleta, o valor chegou a R$ 4,5 milhões, referente aos danos materiais. Os danos morais seriam duas vezes esse valor (R$ 9 milhões). O total foi arredondado para R$ 13 milhões. Adib estuda agora mudar o foco da ação e responsabilizar a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) pela inatividade da cliente.


Volta incerta
Briga jurídica à parte, a recuperação de Leila para o esporte é incerta. O fisioterapeuta Nivaldo Baldo, que tratou do caso dela por cinco meses, disse que a recuperação é lenta. “O tratamento demora entre um ano e um ano e meio, mas apenas de 30% a 40% dos que sofrem esse tipo a lesão se recuperam e voltam a jogar”, comentou.

Como não está acompanhado mais a atleta, Nivaldo prefere não dar palpite sobre as chances de Leila voltar ao basquete depois de mais de três anos de inatividade. “Ela precisaria refazer alguns exames para que eu possa dizer algo. Foi uma pena ela ter parado o tratamento”, lamentou. Atualmente, a jogadora treina gratuitamente numa academia de Santo André, acompanhada por um fisioterapeuta.




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