terça-feira, 23 de setembro de 2003

Janeth é arma do Brasil dentro e fora da quadra




Vicente Toledo Jr.
Em São Paulo



Aos 34 anos de idade, a estrela do basquete feminino brasileiro extrapolou o limite das quatro linhas. Melhor jogadora do Pré-Olimpico das Américas (com médias de 24,3 pontos, 7,8 rebotes, 3 bolas roubadas por jogo), competição em que o Brasil garantiu sua classificação para a Olimpíada, Janeth vem defendendo a seleção brasileira também fora das quadras.

Exigindo dos dirigentes boas condições de trabalho para a equipe, a ala quer evitar os erros do último Mundial, quando o Brasil não se preparou adequadamente e amargou um modesto sétimo lugar. Com planejamento, treinos e intercâmbio, diz Janeth, a seleção tem boas chances de chegar à terceira medalha olímpica seguida. Em entrevista ao UOL Esporte, ela comenta a vaga olímpica e revela seus planos para o futuro.

UOL Esporte - Cumprida a primeira missão, a seleção tem agora o desafio de repetir as medalhas olímpicas de Atlanta-1996 e Sydney-2000. Quais são as chances do Brasil em Atenas-2004?
Janeth Arcain: A seleção brasileira está em um grande momento. Sabemos o caminho, agora só precisamos fazer o nosso melhor para que os resultados apareçam. Se a gente tiver boas condições de preparação, temos boas chances de chegar ao pódio. E é isso que vamos buscar.

UOL Esporte - Alguma possibilidade de a WNBA, a liga profissional norte-americana, atrapalhar sua participação nas Olimpíadas?
Janeth: A WNBA vai ser na mesma época das Olimpíadas, mas não estou pensando nela agora. A prioridade vai ser a seleção, mesmo que coincidam as datas. Isso já está certo; vou ficar aqui no Brasil treinando. WNBA tem todo ano, Olimpíadas só de quatro em quatro. Para mim, a seleção brasileira sempre estará em primeiro lugar.

UOL Esporte - Mas a sua participação no Pré-Olímpico no México só foi confirmada dez dias antes do início do torneio...
Janeth: Ah, sim, isso aconteceu. Eu não tinha conversado com o Grego (Gerasime Bosikis, presidente da CBB) ainda. A gente estava discutindo as condições para a equipe no Pré-Olímpico e na Olimpíada. Só queria assegurar o melhor para a seleção, ter certeza de que não faltaria nada.

UOL Esporte - Sobre o que vocês conversaram? Reivindicações?
Janeth: Quis saber como a gente vai treinar, quando a gente vai treinar, por quanto tempo... Saber também se o plano das outras jogadoras é ficar aqui para reunir a seleção na época correta. O que eu quero agora é ficar treinando com a seleção, ter as melhores condições de trabalho, um bom local de treino. Tudo para que nada dê errado, e depois a gente fique lamentando "ah, faltou isso, se tivéssemos aquilo". Não queremos que aconteça como no Mundial, quando nos encontramos no aeroporto para jogar um campeonato tão difícil (o Brasil acabou em sétimo lugar).

UOL Esporte - O que você achou do calendário da seleção neste ano? A preparação para o Pré-Olímpico foi bem feita?
Janeth: O calendário foi bom porque outras jogadoras puderam adquirir uma boa experiência disputando competições internacionais, amistosos, Sul-Americano, Pan-Americano... Tudo isso dentro do planejamento e dentro daquilo que a gente precisa: enfrentar e conhecer melhor as outras seleções para não termos surpresas quando formos jogar contra elas.

UOL Esporte - Sua chegada foi o fator determinante para o bom desempenho da seleção brasileira no Pré-Olímpico?
Janeth: Mais experientes, eu e a Helen apenas acrescentamos confiança ao grupo. O Brasil quis muito mais essa vaga que as outras seleções. O grupo se uniu, conseguiu deixar o "eu" de fora e buscar o "nós". Acho que esse foi o principal ponto positivo.

UOL Esporte - Você esperava ser eleita a melhor jogadora? Esses prêmios ainda mexem com alguém tão acostumado às vitórias?
Janeth: Foi legal ganhar o prêmio de melhor jogadora, ainda mais em um torneio onde tinha um monte de garotas buscando seu espaço. Nesses grandes momentos, a experiência acaba contando. Estou muito contente porque é mais uma conquista importante para a minha carreira. Se continuo ganhando esses títulos com 34 anos, como pensar em parar?

UOL Esporte - Então esta talvez não seja a sua última Olimpíada. Ainda vai restar gás para jogar também nos Jogos de 2008?
Janeth: Vai depender; ainda não sei. No ano que vem, vou estar com 35. Em 2008, 39. Estou tão legal fisicamente e mentalmente que não estou pensando em parar. Depois de uma conquista tão boa como essa, a gente sempre quer mais. Mas vou deixar para pensar depois de Atenas-2004.

UOL Esporte - Mas logo depois, em 2006, tem o Mundial aqui no Brasil. Você não vai querer ficar de fora, vai?
Janeth: É, tem Olimpíada no ano que vem, Mundial em 2006 no Brasil, tem o Pan em 2007. Acho que só vou poder parar em 2009 (risos). Vamos ver, o atleta sempre quer continuar jogando, se desafiando, e eu sou assim. Então, a curto prazo, eu tenho esse planejamento de jogar as Olimpíadas no ano que vem e o Mundial em 2006.

FICHA

Nome: Janeth dos Santos Arcain
Nascimento: 11/4/1969
Local: Carapicuíba (SP)

Perfil
No início da carreira, Janeth ficou conhecida como a fiel escudeira da dupla Paula e Hortência, aquela jogadora que sempre aparecia para salvar o Brasil nos momentos em que as duas estrelas estavam muito marcadas.

Anos depois, a ala ganhou luz própria, assumiu a condição de principal jogadora brasileira e vem comandando o surgimento de uma terceira geração de grandes jogadoras.

Janeth começou no Higienópolis, de São Paulo, em meados da década de 80. Passou por BCN e Jundiaí, jogando ao lado de Paula, depois passou para o lado de Hortência em Sorocaba. Após a aposentadoria das duas companheiras, defendeu Santo André, Vasco da Gama, Ourinhos, Houston Comets e, atualmente, está no São Paulo/Guaru.

Possui uma extensa galeria de títulos, dos quais os mais importantes são o Mundial de 1994, as medalhas de prata e bronze nas Olimpíadas de Atlanta-1996 e Sydney-2000, respectivamente, a medalha de ouro pan-americana em Havana-1991, e os quatro troféus da WNBA.

Fonte: UOL Esporte

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