quinta-feira, 24 de junho de 2004

Kelly da Silva Santos

Aos 24 anos, Kelly da Silva Santos está vivendo uma nova fase na carreira: mais experiente e segura, depois de atuar na WNBA (Detroit Shock) e na Europa. Consciente de seu potencial, a pivô mostra que está pronta para encarar a responsabilidade de lutar pela terceira medalha olímpica do basquete feminino (Kelly conquistou o bronze, em Sydney/2000). Para isso, a atleta se dedica aos treinamentos com a seleção feminina adulta depois de defender o Cus Chieti, equipe italiana que renovou o contrato com a jogadora por mais dois anos. Pela seleção principal, Kelly foi campeã do Torneio Pré-Olímpico do México (2003), medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo (2003), bicampeã da Copa América (1997 e 2001) e bicampeã sul-americana (1999 e 2003).

Você está a caminho da sua segunda Olimpíada. O que mudou na jogadora Kelly desde Sydney?

Estou muito mais madura e experiente em quadra. Há quatro anos, em Sydney, eu estava na seleção com o objetivo de ajudar à equipe. Agora, não estou mais só para colaborar, acho que posso resolver. Minha passagem pelo basquete americano e europeu me deixou mais segura e mais completa. Acredito no meu potencial e nas minhas características, que são a velocidade, força e eficiência nos rebotes. Estou mais completa como jogadora, atuando bem nas posições 4 (ala/pivô) e 5 (pivô).


Quais as chances da seleção brasileira em Atenas?

Temos todas as condições de subir ao pódio mas uma vez. Como eu, todo o grupo evoluiu bastante. Somos uma equipe forte, experiente, que é muito respeitada no cenário mundial. Não podemos subestimar nenhum adversário, mas acho que temos que pensar grande. Vamos para a Grécia pensando em conquistar mais uma medalha para o nosso país e a de ouro tem que estar nos nossos planos. Para isso o trabalho e concentração devem ser absolutos em todos os momentos. Em Olimpíada, não há jogo fácil e hoje não existe equipe boba. O primeiro passo para cumprir o nosso objetivo é buscar o primeiro lugar na chave e jogar melhor a cada partida. O grupo está bem forte mas se queremos chegar à final temos que passar por todos os adversários, com respeito, mas sem medo.


E os favoritos para o pódio na Olimpíada?


Além do Brasil, Estados Unidos, Austrália e Rússia são as equipes com grandes chances de medalha. Mas outras seleções podem surpreender, como a República Tcheca e a Espanha. Conheci a maioria das jogadoras na Euroliga e todas são muito boas, pois as competições na Europa são fortes. A Coréia também cresceu nos últimos anos e pode dar trabalho aos adversários.


Como foi a temporada 2004, no Cus Chieti?

Para mim, foi uma temporada muito positiva, apesar de desgastante. Eu era a mais nova da equipe titular e, ao mesmo tempo, a mais experiente do grupo. Joguei bastante e participei do All Star Game, no time das estrangeiras contra a seleção italiana. A diretoria gostou do meu trabalho e renovamos por mais dois anos. A comissão técnica disse que quer o time com a minha cara o ano que vem. Isso é uma honra e eu espero corresponder a expectativa deles.


Você foi para a Itália depois de atuar na equipe francesa de Bourges. Como foi a mudança?

Fui para um time menos experiente. Na França, conquistei o terceiro lugar no campeonato francês e fomos vice-campeão da Euroliga. Mas como já disse, valeu a pena ir para um time mais jovem. Apesar dos resultados não terem sido tão bons, individualmente cresci muito. Além disso, adoro viver na Itália. É um país bem parecido com o nosso, a comida é maravilhosa e o clima ótimo.


Como o basquete brasileiro é visto no exterior?


Com muito respeito. Os europeus gostam muito da nossa criatividade, velocidade e nos acham jogadoras completas. O Brasil tem ótimos técnicos e profissionais do esporte que preparam bem os jovens talentos. É uma responsabilidade enorme representar o Brasil no exterior. Responsabilidade que carrego com muita honra e orgulho.


Qual o conselho que você daria para quem está começando a carreira internacional?


Não desistir nunca. Quando fui para os Estados Unidos, jogar na WNBA, com apenas vinte anos, foi muito difícil no começo. Viver longe do meu país e da minha família me deu uma tristeza grande, uma solidão horrível. Mas temos que aproveitar todas as experiências para crescer. Se eu tivesse desistido nesse início difícil, não teria conquistado o que eu tenho: uma carreira sólida, um currículo respeitável e independência financeira.


Deixe uma mensagem para os jovens esportistas.

Nunca se deixe fraquejar quando alguém te subestimar. Quanto mais a gente cresce, mais a gente incomoda. Confie no seu caráter, talento e siga sempre em frente. Quero aproveitar a oportunidade para parabenizar as pessoas que estão tentando seu lugar no mundo. O esporte é um meio difícil, mas sempre vale a pena.

Fonte: CBB

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