terça-feira, 15 de junho de 2004

Paula: Brasil tem time para chegar ao pódio

Marta Teixeira

São Paulo (SP) - Confiança e apoio não faltam à seleção brasileira feminina de basquete para lutar por mais uma medalha olímpica nos Jogos de Atenas, em agosto. Prata em Atlanta-96, ouro no Mundial da Austrália-94 e no Pan-Americano de Havana-91, Magic Paula, um dos principais nomes da história da modalidade no país, é uma das que acredita no grupo que vai à Grécia. 'Time para chegar ao pódio nós temos', garante.
Experiente, ela sabe que, no entanto, não é só isso que assegura um bom resultado na competição. 'Olimpíada envolve muitos fatores. É importante saber que, em uma olimpíada, quando você perde um jogo é uma batalha, não a guerra. Não pode se abater'.

Paula acha que um dos trunfos da geração que vai a Atenas é o conjunto. 'O basquete conseguiu manter o nível (desde a conquista do título Mundial em 94). A gente só conseguiu (o título) porque outras meninas chegaram com responsabilidade', elogia.

Na Austrália, valeu a divisão de funções, enquanto Hortência, Paula e Janeth tratavam de pontuar, anotando 221, 181 e 149 pontos, respectivamente, as pivôs - Alessandra, Cíntia Tuiú, Leila e Ruth - fechavam o garrafão, setor que tradicionalmente era mais frágil, e também faziam seus pontinhos.

Parte das jogadoras que estavam na Austrália continuam na seleção em um grupo no qual Paula vê mais unidade. 'Hoje o time está muito mais homogêneo e não depende só de duas jogadoras elogia'.

Em Atenas, a seleção brasileira estréia dia 14, enfrentando o Japão, às 10h45. A equipe está no grupo A ao lado de Austrália, Grécia, Nigéria e Rússia. No grupo B estão China, Coréia do Sul, Espanha, Estados Unidos, Nova Zelândia e República Tcheca.

Não é apenas Paula quem confia no talento da atual seleção. Adriana Santos, que integrou a seleção até o Mundial de 2002, também acredita em medalha na Grécia. 'Acho que (esse time) é pódio. Tem grandes equipes que estarão em Atenas, como Estados Unidos e Rússia, mas elas têm tudo para se sair bem'. A confiança, no entanto, não dá certeza da cor da conquista. 'Independente da medalha que vier está de bom tamanho. São poucos patrocínios, só dois times principais (no país). Vou torcer por elas. Tenho certeza que essas meninas têm capacidade de conseguir tudo'.

A ex-pivô Ruth concorda. 'Se esse time chegar unido tem todas as chances. É uma nova geração que tem talento. Estou torcendo para a medalha chegar logo. Acredito que com essa união e juventude têm tudo para dar certo'.

Técnico campeão prepara as malas para tentar a sorte no exterior

Marta Teixeira

São Paulo (SP) - A comemoração pelos dez anos da conquista do título Mundial feminino de basquete, nesta segunda-feira, em São Paulo, foi animada. Teve samba-enredo puxado pelo ex-assistente-técnico da seleção Sérgio Maroneze, muitos abraços e reencontros - como o da pivô Ruth, que andava meio sumida do circuito esportivo -, mas não deixou de ter seu toque de nostalgia.
Entre os homenageados da tarde, o técnico Miguel Ângelo da Luz, não escondeu a alegria pela lembrança nem um pitada de mágoa por não conseguir mais espaço em seu próprio país. Nos próximos dias, ele garante que prepara as malas e se transfere para a Europa onde comandará uma equipe da segunda divisão portuguesa.

Por quê?, pergunta repetidas vezes, abrindo uma incógnita sobre sua situação. 'Será que ninguém aqui, dessa comissão técnica tem qualidade. Nenhum de nós está trabalhando no basquete', questiona. 'Será que é política? Não sei. Antes nós éramos muito jovens, agora estamos muito velhos?', diz, lembrando que na época do mundial australiano, ele era um dos mais velhos da comissão, com 35 anos. 'Será que com 45 anos estou muito velho? Preciso ir lá fora mostrar o meu valor?'.

Além do título mundial, Miguel Ângelo também foi prata com a seleção nos Jogos Olímpicos de Atlanta-96. Depois, migrou para o basquete masculino. Na última temporada, comandou o Flamengo no estadual carioca, mas acabou dispensado no final do torneio. Desde então está parado.

Nos dez próximos dias, ele deve acertar a ida para o Torres Vedras, equipe da Proliga portuguesa. 'Faltam apenas alguns detalhes. Voltei de Portugal ontem e acho que em uns dez dias vai estar tudo acertado', completa.

Título tirou um nó da garganta

Marta Teixeira

São Paulo (SP) - Bater na tabela, rodar no aro e não cair. Essa pode ser uma maneira de expressar o sentimento das brasileiras em relação ao Campeonato Mundial. 'A seleção passou tanto tempo tentando. Era meu quarto mundial (79, 83, 86 e 90), a gente achava que não ia conseguir nunca', lembra a armadora Paula, uma das estrelas da conquista do primeiro, e até hoje, único título mundial da seleção feminina, na Austrália em 1994.
Décimo colocado na edição anterior da competição, o Brasil foi para a Austrália embaixo de muito descrédito. 'Ninguém achava que poderíamos ganhar', lembra Janeth. Mas as brasileiras surpreenderam, com muito trabalho, é claro.

Foram duas derrotas na fase classificatória, para Eslováquia (99 a 88) e China (97 a 90), mas mesmo assim o grupo chegou à semifinal, superando os Estados Unidos, que vinham do bicampeonato. Na final, despacharam a China com nove pontos de vantagem (96 a 87). 'Acabamos com a hegemonia de dois países (EUA e a ex-União Soviética). Passaram a enxergar nossa força.Coincidiu com um amadurecimento total, de planejamento, do trabalho'.

Para Paula, o título na Austrália simbolizou uma mudança geral na categoria. 'Foram dois anos de preparação homogênea. Entre os clubes também, eles recebiam como devia ser feito o trabalho conosco. Chegar ao sucesso depende de muitas coisas. Houve uma mudança de mentalidade em prol da seleção', destaca.

Com uma preparação melhor estruturada, o resultado chegou rápido. Infelizmente, nem todas as potencialidades da conquista foram bem exploradas. Mas para as campeãs, a recordação não tem preço. 'É uma emoção que não tem como descrever', diz a ex-pivô Ruth. 'Só quem vive e passa por isso sabe'.

A ala Adriana Santos acha que foi o início de uma nova era. 'Foi o início de tudo, uma medalha que ninguém esperava. Foi o carimbo na faixa, que teve no Pan de Havana o pontapé inicial'. Janeth destaca ainda a importância do feito no cenário internacional. 'Nossa ascensão serviu para massificar o basquete feminino no plano mundial'.


Homenagem resgata ouro mal aproveitado

Marta Teixeira

São Paulo (SP) - Conquistar uma medalha de ouro em uma competição de ponta é o sonho de qualquer esporte que queira se tornar grande e conquistar espaço. Infelizmente, nem sempre as conquistas são devidamente aproveitadas para garantir a tão sonhada evolução da modalidade. O título mundial da seleção brasileira feminina de basquete de 1994 é um exemplo disso.
Nesta terça-feira, em São Paulo, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB), organizou um almoço para homenagear as campeãs. Esta é a sétima homenagem organizada pela entidade aos atletas e comissões que obtiveram conquistas importantes para a modalidade no país. No comando da CBB desde 1997, o presidente Gerasime Grego Bozikis rememorou os 60 anos do Sul-americano masculino de 39, os 50 anos da Olimpíada de 48, o primeiro título sul-americano feminino de 54, os campeães mundiais de 59 e 63 e os medalhistas olímpicos, mundiais e de pan-americanos durante a comemoração dos 70 anos da entidade.

Em 94, no entanto, o título mundial acabou eclipsado pelo tetracampeonato mundial de futebol, nos Estados Unidos. 'Todas as atenções estavam voltadas para o futebol', reconhece a ala Janeth, uma das campeãs. 'O palco todo estava montado para isso e o nosso (título) passou um pouco despercebido para as pessoas, mas não para nós. Comemoramos muito', recorda a atleta, que vê até um lado positivo nisso. 'Não tivemos muita pressão e pensamos: vamos fazer nosso trabalho'.

Além de não receber o devido crédito na época da conquista, o título mundial acabou sendo pouco aproveitado pelas estruturas do basquete. Paula, a Magic, que encantou por onde passou com seu talento, não tem dúvidas quanto a isso. 'Acho que não foi bem aproveitado', afirma. 'Era o momento para se fazer a massificação. Criar espaços para a meninada de 10-12 anos que viu a gente jogando'.

A CBB, então presidida por Renato Brito Cunha, acabou perdendo o bonde da história e desperdiçando uma oportunidade, literalmente, de ouro. 'Foi que nem aconteceu com o Guga', compara Paula, lembrando do tricampeão de Roland Garros e ex-número 1 do mundo. No início do ano, ele liderou um movimento reclamando da falta de senso de oportunidade dos dirigentes para aproveitar seu auge e popularizar o esporte.

Primeiro país do mundo a quebrar a hegemonia do Mundial, até então, privilégio exclusivo da ex-soviéticas (1959 a 1975 e 83) e norte-americanas (1953 e 57, 79, 86, 90, 98 e 2002), o Brasil fez o que era impossível em quadra, mas não tirou o máximo proveito disso fora dela. 'Tivemos 'azar' porque o Brasil foi campeão nos Estados Unidos e o basquete foi eclipsado. Marketing é a alma do negócio e não souberam aproveitar isso. Não souberam colocar o basquete em seu devido lugar', reclama Adriana Santos, outra homenageada.

Apesar de todas as dificuldades, o basquete feminino brasileiro manteve-se, desde então, entre as principais forças do cenário internacional. A equipe será a única representante da modalidade nos Jogos Olímpicos de Atenas, em agosto, e já iniciou sua preparação para lutar por mais um feito inédito: uma medalha de ouro na competição. Até hoje, as meninas do Brasil já foram prata (Atlanta-96) e bronze (Sydney-2000), faltando apenas o topo do pódio para completar a coleção.

Presente à homenagem às campeãs mundiais, a seleção de 2004 é, em parte, formada pelas próprias vencedoras de dez anos atrás - permanecem no grupo as pivôs Alessandra, Cíntia Tuiú e Leila, além das alas Janeth e Helen - e reconhece a importância desta conquista para todo o sucesso posterior. 'Foi uma conquista muito importante para o basquete', destaca a ala Iziane, um dos principais nomes da nova geração de jogadoras e convocada para Atenas. 'O esporte sobrevive de títulos. Apesar de não sermos devidamente reconhecidas pelos títulos que temos, esse foi o começo de uma nova era', ressalta. 'Não sei se é porque o Brasil é um país machista', completa Adriana.

Da homenagem em São Paulo participaram praticamente todos os personagens da conquista, a principal ausência foi da ala Hortência, que não pôde comparecer porque se recupera de uma cirurgia. Roseli, que disputou a última temporada na Europa, também não participou. Os homenageados - as jogadoras Adriana Santos, Alessandra, Cíntia Santos, Dalila, Helen, Hortência, Janeth, Leila Sobral, Paula, Roseli, Ruth e Simone Pontello e a comissão técnica formada por Raimundo Nonato (chefe da delegação), Waldir Pagan (supervisor), Miguel Ângelo da Luz (técnico), Sérgio Maroneze (assistente), Hermes Balbino (preparador físico), Marli Kecorius (médica), Marísia Lébeis (fisioterapeuta) e José Pedro Felício (massagista, in memorian) - receberam um quadro, uma bola e uma camiseta comemorativa à data.

Fonte: Gazeta Esportiva





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