domingo, 29 de agosto de 2004

Bravo, Argentina. E chegou a hora de mudanças


Por Juarez Araújo, colunista AOL Esportes

O basquete na Olimpíada de Atenas ficou em boas mãos. No masculino, a Argentina reeditou o sucesso alcançado no Mundial de Indianápolis, há dois anos. Eliminou os americanos na semifinal e depois matou a Itália com propriedade de uma seleção que atinge seu máximo no momento planejado. E isso graças a um trabalho e sério que vem há mais de 10 anos. No feminino, deu a lógica. As americanas conquistaram a terceira medalha de ouro seguida em Olimpíadas. A última medalha de ouro perdida foi na final de 92, em
Barcelona, quando a CEI foi melhor.


A seleção brasileira feminina cumpriu seu papel dentro das limitações em que foram colocadas as jogadoras. Em jogo algum, nem mesmo na vitória contra a Espanha nas quartas-de-final, deixou o mais otimista torcedor confiante de que poderia trazer uma medalha. A equipe foi mal treinada, sem liderança dentro e fora da quadra e o quarto lugar foi até um milagre, graças ao talento individual da Janeth, da jovem Iziane e das esforçadas pivôs Alessandra, Cíntia Tuiú e Cátia.


Faltou ao Brasil – e isso foi alertado nesta coluna há tempos – uma postura agressiva na defesa e jogadas especiais em momentos especiais, como faltando poucos segundos para terminar um período ou a partida. O que se via era um amontoado de jogadoras correndo de um lado para o outro, sem corta-luz, sem
posicionamento. As derrotas eram iminentes diante desse quadro. O experiente técnico Antônio Carlos Barbosa, parece que parou no tempo.


Não se ganha mais jogo no chamado grito e muito menos atacando com jogada “figura de oito”. É preciso dar uma cara ao basquete feminino brasileiro. E por isso, acredito que a contribuição do treinador ao basquete brasileiro, como técnico, se encerrou em Atenas. Como haverá renovação natural no elenco, quem sabe chegou a vez de outro técnico também assumir.


De qualquer forma, o quarto lugar foi um milagre alcançado pelas jogadoras, diante das condições de organização que nossas meninas vivem. Exemplo: Janeth que nem time tem para jogar o Nacional. Outro detalhe é que há tempo não acontece um Campeonato Brasileiro e até Paulista digno da tradição da
modalidade que já ganhou duas medalhas olímpicas, um Mundial e dois Pan-americanos.


A seleção americana feminina mostrou mais uma vez o poderio do país. Mas o time dirigido pelo técnico Van Chancellor envelheceu. Lisa Leslie, Dawn Staley, Tina Thompson e Yolanda Griffith não jogarão outra olimpíada, ao contrário do jovem time australiano que pela segunda vez perdeu o ouro para as americanas. Vale lembrar que em Pequim, em 2008, o time dos EUA estará renovado. A Austrália, não. E aí a bela Lauren Jackson pode, enfim ganhar o ouro.


A grande surpresa no masculino sem dúvida alguma foi a Argentina. Ouro e com mérito. No time que tem Manu Ginobili, Nocioni, Pepe Sanchez, Scola e Oberto, os argentinos deram grande passo ao ouro inédito ao eliminarem os Estados Unidos na semifinal. Depois, contra a Itália, na decisão do ouro, mostrou mais uma vez que a escola argentina chegou para ficar. Jogadores disciplinados, fortes e aguerridos na defesa, los hermanos deram uma aula sob o comando do competente Ruben Magnano. Aos americanos, o bronze foi mais um castigo de quem pensa que é, mas não é superior. Não se pode montar uma seleção em poucos dias e enfrentar adversários que passam o ano todo pensando no momento único: vencer os americanos. Foi assim com a Lituânia e Porto Rico. E depois para os argentinos.


Um ciclo olímpico já se foi. Vamos acompanhar atentamente o próximo. E quem sabe com uma nova geração vencedora do Brasil. Afinal de contas, o basquete brasileiro não suportará outro fracasso com uma geração que hoje tem cinco jogadores atuando na NBA. Só falta uma organização melhor.


De bandeja

• Janeth Arcain deve ter encerrado o ciclo olímpico com uma marca difícil de ser batida. Nos 29 jogos que atuou nas quatro olimpíadas que disputou, a lateral marcou nada menos que 535 pontos. Janeth retorna junto com a delegação brasileira nesta segunda-feira, mas ainda não sabe em qual equipe irá jogar o próximo Campeonato Nacional. Por sinal, a delegação brasileira chega nesta segunda-feira (30) por volta das 4h40 em Cumbica.


• O Brasil ganhou uma medalha de ouro com o árbitro Carlos Renato dos Santos, que entrou para a história de finais olímpicas. Pela segunda vez ele apitou uma decisão. Antes, o Brasil já tinha colocado dois árbitros em finais olímpicas. Primeiro foi em 1972, com Renato Righeto, no conturbado jogo entre Estados Unidos e União Soviética, quando os soviéticos venceram. Depois Antônio Carlos Affini e, agora, Renatinho batendo o recorde, apitando duas finais. Em Sydney, no ano 2000, ele também apitou a final.


• Iziane Marques mostrou em Atenas que se consolidou como jogadora de seleção e internacional. Jogou como gente grande, como foi Janeth, Hortência e Paula. Resta agora um planejamento melhor para as próximas competições, inclusive com a geração que foi vice-campeã mundial no juvenil sob o comando
do técnico Paulo Bassul.


• Acabou o sonho olímpico para as meninas. Agora vem em outubro o Campeonato Nacional. E por incrível que possa parecer, quase toda seleção vai jogar na Europa. E por aqui, nem o número de clubes que vão participar se sabe. E nesse início de setembro, no masculino, tem o Campeonato Paulista, com 15 equipes e com três disputando o título: COC/ Ribeirão, Uniara e Paulistano.

Fonte: Coluna Juarez Araújo, AOL

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