terça-feira, 21 de setembro de 2004

Caça às bruxas

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE


A noite já começou esquisita. Às 19h eu tinha em mãos o espaço da edição de domingo. Não vou tomar seu tempo, digno leitor, com detalhes da rotina da Redação de um jornal. Peço só que confie em mim quando digo que isso é um verdadeiro milagre.
Consegui me desvencilhar, abrir um buraco de duas horas no miolo da dupla jornada que me toma toda santa sexta-feira há 11 anos, e toquei para o Paulistano.
Na rua, outra graça: o trânsito fluiu. Em 15 minutos, o táxi me levou do Centro aos Jardins.
Cheguei no final do primeiro quarto, quando Ribeirão Preto passeava em quadra. Cumprimentei o Fred, o Gian, o Carlos, colegas igualmente enfeitiçados pelo basquete. Troquei uma idéia sobre a trilha frankenstein que os anfitriões tomaram neste Estadual, interrompendo a aposta na prata da casa com uma duvidosa mescla de veteranos rodados.
Como de hábito, pedi licença e subi ao canto mais vazio da arquibancada, dessa vez bem defronte ao banco dos visitantes.
Nem bem me sentei e abri meu bloquinho, fui cercado por meia dúzia de belas e perfumadas garotas, se não me engano juvenis do clube. Creia, meu caro, isso também não costuma acontecer.
Mas foi em quadra que o estranho, o bizarro e o extraordinário resolveram se encontrar, à custa do atual tricampeão estadual.
Em um estalar de dedos, o vigoroso Murilo, pivô da seleção de 21 anos, começou a penar ante Everaldo, que nunca foi de seleção e tem 33. Os chutes do geralmente confiável Renato passaram a partir -e a voltar- flácidos.
Sem motivo aparente, o arisco Arthur deixou de ciscar, e o azougue Nezinho, de aparecer.
Vai saber por quê, Douglas repetia "air balls", e Felipe e Márcio trombavam nas rotações e cometiam faltas bobas, enquanto Jorginho e Ricardo Probst, do time da casa, metiam bola após bola.
A cada manifestação de mau basquete, seguia um gesto de descontrole do banco ribeirão-pretano. Lula açoitava tanto o reserva Mineiro, totalmente perdido em sua adolescência, que dava dó.
Mas o vozeirão do técnico preferia a arbitragem, sobretudo Tatiana Steigerwald. No início do terceiro quarto, embalado, chegou ao cúmulo de contestar uma marcação em favor de sua equipe. "Que falta é essa?", berrou, assim que o apito socorreu Murilo.
A gafe serviu de deixa para os visitantes implodirem de vez. Dois acabaram expulsos: Renato, por bater em Hélio, e Nezinho, em Jefferson. E três, eliminados por faltas: Felipe, Márcio e Murilo.
Na saída, o competente e cortês César de Oliveira, médico da CBB, me falou: "Não entendo. Até o primeiro quarto tudo ia normal". Depois, o próprio Lula, de cabeça quente após ter sido ele também merecidamente expulso, espumou e me apontou: "Você arruinou o basquete brasileiro".
Está certo que o jornalista é um ser arrogante, prepotente, que se farta em seu mundo. Mas meu lado babyconsuelo, que é bem miúdo, tilintou nessa hora. Será que eu realmente tenho a força?
Antes que me incinerem na fogueira, quero registrar que fiz tudo por gosto e com boas intenções.

Halloween 1
Quando rompeu com os apoiadores de uma liga independente da CBB, Oscar disse que não consentiria com um projeto que privilegia as cidades e não contempla forças populares como Flamengo e Vasco. Mas o ex-cestinha hoje não parece incomodado em estrear como cartola justamente no time que a prefeitura lançou para representar o Rio e no primeiro Estadual fluminense sem nenhum grande clube. Sem data para começar, o torneio tem apenas três inscritos.

Halloween 2
Flagrado em antidoping após amistoso na Grécia, Wanderson culpou a falta de médico durante a excursão. O ala do Uberlândia alega que precisou automedicar uma gripe e que não foi avisado que haveria exame. A comissão técnica da seleção diz que é "conversa fiada
".

E-mail melk@uol.com.br

Fonte: Folha de São Paulo


Nenhum comentário: