quinta-feira, 25 de novembro de 2004

Já viu a Nova Novela das Seis?
"As Ostras"




Tenho acompanhado pela imprensa tudo que se publica sobre os lamentáveis acontecimentos na cidade carioca de Rio das Ostras, que assistiu seus dois times de basquete (masculino e feminino) se desmantelarem num espetáculo constrangedor.

Se você acredita em tudo que lê nos jornais, o enredo está pronto: uma estrangeira "estelionatária" (assim chamada pelo superintendente da Federação Carioca) enganou a todos: atletas, técnicos, Federação Carioca, Confederação Brasileira. Nada mais maniqueísta. De um lado, a estrangeira malévola. De outro, nossos dirigentes tão bem-intencionados, tão preocupados com o nosso basquete, tão ingênuos. Todos iludidos e ludibriados por uma mulher só.

Dá pra acreditar?

Sinceramente, o enredo acima não convenceria nem se reforçado por argumentos de Glória Perez, Aguinaldo Silva e outros mestres do novelão. E na vida real? Convence menos ainda.

Tudo isso me veio a cabeça ao ler o editorial que o superintendente da Federação de Basquete do Estado do Rio de Janeiro publicou no site da entidade acerca dos fatos.

Trancrevo-o, na íntegra:

Elite vê 1ª desistência no meio de torneio em 7 anos
24/11 :: 13h 26m

Por Guilherme Kroll - Superintendente da FBERJ

" Os últimos casos de desistência no meio do campeonato foram em São Paulo. Em 1997, duas equipes fecharam antes do fim do Estadual. Sem patrocinadores, o Jomec/Rio Preto (feminino) e o Trianon/Jacareí (masculino) tiveram que encerrar as atividades." Esse texto foi extraído da Folha de São Paulo, do dia 24/11, assinado por Adalberto Leister Filho tratando da desistência do Iate Clube Rio das Ostras do Campeonato Estadual Adulto Masculino 2004.
Infelizmente, estelionatários existem em todos os segmentos da nossa sociedade. Poucos acreditavam que o basquete do Rio de Janeiro sobreviveria sem Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo. Culturalmente tudo sempre esteve baseado em torno desses clubes. Sempre foi dito que o interior do estado não tinha comparação, em termos financeiros, com o interior de São Paulo. Sempre foi dito que nossas universidades não tinham características para patrocinar equipes de ponta.
Entramos 2004 com graves problemas. A ESPN reduziu drasticamente o contrato televisivo, em função da ausência dos grandes clubes. A base só sobreviveu pelo patrocínio vindo da SEAE, comandada pela Patrícia Amorim. Conseguimos que o Prefeito César Maia, em parceria com a Telemar montasse uma equipe de ponta. Estimulamos que Campos aumentasse o investimento no seu projeto esportivo.
Conseguimos que Macaé se organizasse numa Liga, presidida pelo Sr. José Domingues, que tem total credibilidade na cidade e captou uma verba pública para o fomento do basquete. O Comary, de Teresópolis, foi outro clube que está tentando desenvolver um projeto de basquete em parceria com o poder público local.
O Club Municipal, percebendo a enorme quantidade de talentos que estavam sem clube para jogar, montou uma equipe competitiva que dá gosto de ver jogar. O Vila da Penha é um projeto social, muito organizado, que vem disputando o Campeonato com muita dignidade. A UFRJ, formada por atletas de bom nível, estudantes da Universidade, também participa com dignidade e organização no Campeonato.
Não tínhamos porque não aceitar o Iate Clube Rio das Ostras. Representados por uma mulher chamada Kátia Meschese montaram uma equipe masculina com Miguel Palmier como técnico, e atletas como Bill, Robson, Sidão, Pedra, Gonzáles, entre outros. Montaram uma equipe feminina, que seria nossa única representante no Campeonato Nacional. Todos os documentos estavam, aparentemente, legais. A cidade (vários restaurantes, várias pousadas, farmácias, empresas de ônibus, etc.) davam crédito e faturavam para tal mulher. Os atletas atuavam como se nada estivesse acontecendo. Infelizmente, no quinto dia útil de novembro, todos perceberam que a tal Kátia não tinha nenhum patrocinador e não pagaria nem aos jogadores, nem ao comércio local.

O editorial de Kroll explica pouco e confunde muito. O dirigente inicia a carta, citando título e parágrafo inicial da matéria da Folha. A intenção? Um atenuante. Já que o mesmo fato aconteceu em São Paulo, não há porque condená-lo agora, que ele acontece no Rio de Janeiro. Certo?

Nos parágrafos seguintes, Kroll admite que o basquete no estado está desmantelado. Sobrevive com iniciativas amadorescas ali e aqui. Algumas regadas com migalhas do dinheiro público. Dinheiro público ao qual o dirigente é tão grato, que trocou, nesse ano (eleitoral), o nome da principal competição feminina do Estado para homenagear esse patrocínio. Vez ou outra, se consegue uma boa bolada, como a da Telemar, que dizem, agora, seria até o motivo da manutenção de Antônio Carlos Barbosa no comando da seleção feminina, pois o projeto do time feminino tem que sair. No Rio. E com Barbosa. E com Kroll.

Nesse cenário dantesco, Kroll se justifica: "Não tínhamos porque não aceitar o Iate Clube Rio das Ostras.". E a seguir, apresenta a culpada: Kátia Meschese. Enganou uma cidade: "vários restaurantes, várias pousadas", e ainda "farmácias e empresas de ônibus e etc". Perigosa, não? Talvez até onipresente para enganar tantos em tão pouco tempo. E sozinha. Realmente, um personagem capaz de fazer dona Odete, a Roitmann, tremer.

Mas fraco, muito fraco na vida real. O que a Senhora Kátia Meschese "faturou" até agora com esses dois times inexpressivos? Nada que justifique os processos que ela responderá a partir de agora.

Mas se Kátia chegou aonde chegou, não foi sozinha. Outros foram coniventes com seu "grande projeto".

Engraçado pensar que uma pessoa como Guilherme Kroll, que afirma estar envolvido com o basquete desde os 17 anos, não perceber que estava se metendo em confusão.

Mais engraçado ainda é ter se envolvido de forma tão intensa no projeto da "tal Kátia."

A mesma com a qual ele posou em fotos, animado, com o "grande projeto" que alavancaria "o melhor Estadual da história do Rio". Estadual que até agora nem no papel foi posto.

Guilherme Kroll aponta Kátia Meschese, que segundo a CBB é a "diretora de basquete" do Iate Clube/Rio das Ostras. Mas o próprio, segundo a mesma CBB, é o "diretor/supervisor" do Iate Clube/Rio das Ostras.

Em entrevista, no próprio site da federação carioca, o técnico do time Alexandre Cato já deixava claro como a mão de Kroll balançava o berço do recém-nato time de basquete: "O Guilherme Kroll, que é um grande amigo, me indicou para o projeto de Rio das Ostras e como sou movido a desafios topei na hora." dizia ele.

Kroll diz que "no quinto dia útil de novembro", a máscara de Kátia teria caído. Mas quando esse prazo já ameaçava estourar, o próprio Kroll conduzia pessoalmente as negociações com a pivô Marta Sobral, que chegou ao Rio em 06 de novembro.

Enfim, hoje, com o anúncio do fim também da equipe feminina, a novela deve acabar precocemente. Jogadoras desempregadas e caladas. Kátia respondendo a polícia. E uma bela e suculenta pizza assando no forno. E o Nacional descobrindo sua real vocação: só café e leite.

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