terça-feira, 29 de novembro de 2005

Torneio feminino, que começa hoje, segura jogadoras atrás de diploma

Bolsa atrai atletas para Nossa Liga

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Todos os clubes que iniciam, a partir de hoje, a disputa do torneio feminino da Nossa Liga de Basquetebol oferecem bolsas de estudo em universidades às suas jogadoras ou negociam parcerias com instituições de ensino.

É o caso de Piracicaba e Niterói, que se enfrentam hoje, na partida de abertura da competição, às 20h, no interior paulista.

"Com o vestibular, devemos ter até 12 atletas na Unimep [Universidade Metodista de Piracicaba]. As jogadoras avaliam esse lado quando acertam contrato conosco", diz Ilda Gonçalves, presidente do Piracicaba, cuja equipe conta com alunas de educação física e fisioterapia, entre outros cursos.

Já o São Bernardo mantém parceria com outra universidade metodista, a sediada na cidade do ABC, que possui tradição no handebol masculino -contabiliza sete títulos da Liga Nacional.

"Eles dão bolsas às jogadoras. Cada um custeia uma parte do projeto", comenta José Fiorizzi, secretário de Esportes da Prefeitura de São Bernardo do Campo.

Santos e Pindamonhangaba, que volta a ter equipe feminina após uma ausência de 15 anos, negociam projeto semelhante com faculdades de suas regiões.

"Estamos conversando com duas universidades para financiar o estudo das jogadoras", informa Abdala Salomão, diretor de basquete do Pindamonhangaba.

Formado pelos clubes insatisfeitos com a condução do Nacional pela Confederação Brasileira de Basquete, o torneio feminino da NLB terá times de somente dois Estados (São Paulo e Rio).

Há 18 anos uma competição com abrangência nacional não tem tão poucos representantes de unidades da federação. Naquele ano, a antiga Taça Brasil teve a participação de quatro equipes, de apenas dois Estados.

O Nacional da CBB, que encerra hoje seu primeiro turno, conta com nove clubes, sendo sete de SP. Goiás e Pernambuco completam a lista de competidores.

No ano passado, porém, a disputa passou pelo vexame de perder um clube, o Rio das Ostras-RJ, durante o torneio, que foi encerrado só por times de SP e MG.

"O problema é que o basquete feminino está concentrado em São Paulo. A CBB precisa trabalhar para implantá-lo em outros Estados. No Nacional, criaram um time no Recife [o Sport], mas, para isso, fecharam uma equipe de São Paulo [o Ribeirão Preto]", argumenta Ilda, do Piracicaba.

SAIBA MAIS

Aliado da CBB apóia time de competição rival

DA REPORTAGEM LOCAL

O racha entre Confederação Brasileira e Nossa Liga de Basquetebol não atingiu totalmente o feminino. Duas equipes da NLB mantêm laços estreitos com clubes ligados à CBB.

O Niterói, que joga as semifinais do Estadual do Rio com a Mangueira, é parceiro da Universo (Universidade Salgado de Oliveira), maior apoiador do torneio da confederação.

A instituição de ensino tem três times na competição masculina da CBB -Uberlândia, Ajax-GO e Brasília-, que começa no dia 11 de dezembro.

A empresa, porém, não irá estampar seu logotipo no uniforme do Niterói durante o torneio da NLB. "Cinco têm bolsa", diz Edgardo Gomes, dirigente do Niterói, que gastará R$ 6.000 por mês com o time.

O São Bernardo, contudo, é o caso mais surpreendente. O time disputa os dois campeonatos. E não descarta usar atletas de um torneio no outro. "Se o regulamento permitir, vamos inscrever atletas que jogaram o Nacional para disputar a Nossa Liga", diz José Fiorizzi, secretário de Esporte de São Bernardo.

A CBB vetou que atletas da NLB na seleção. É o caso de Lucas Tischer, dispensado da NBA pelo Phoenix, que está no São José dos Pinhais. (ALF)

Sabotagem

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE


À última hora, quando tudo parecia perdido, os dirigentes do Paraná manifestaram interesse, esboçaram uma oferta. Nem ouviram uma satisfação. A CBB preferiu desistir de vez do campeonato brasileiro juvenil feminino a entregar a organização dele a uma federação dissidente, que não votou na reeleição do presidente Gerasime Bozikis.

Em agosto, o gerente administrativo e supervisor de basquete da Mangueira assinou uma carta de desabafo, lamentando o descaso e o jogo politiqueiro que marcam a gestão das categorias de base. Outros técnicos se solidarizaram e engrossaram a corrente de protestos. A confederação não só não se comoveu como retrucou. Sacrificou seu principal parceiro econômico e cancelou a segunda edição da Copa Eletrobrás, o Nacional interclubes juvenil, que representa a grande (única?) vitrine do trabalho do morro carioca, um dos projetos de inclusão social por meio do esporte mais bonitos e bem-sucedidos do país.

Outro centro formador de talento, Osasco negociou até este mês a inclusão de um time na Nossa Liga, o torneio independente que nasceu da revolta dos clubes contra os pedágios e favores cobrados nos eventos oficiais. A idéia era dar experiência de quadra e alguma perspectiva profissional à nova fornada. Teve de recuar quando ouviu que suas meninas nunca mais seriam chamadas para as seleções de base.

Aliás, no começo do semestre, quando as comissões técnicas ainda se faziam de desentendidas, as atletas menos experientes da seleção adulta já confidenciavam aos mais próximos que haviam sido orientadas a assinar com equipes alinhadas com a CBB para não "colocar em risco" suas carreiras.

Em outubro, a confederação não fez mais questão de dissimular. A uma quinzena da estréia da Nossa Liga masculina, agarrou-se a argumentos fictícios e anunciou que as portas da seleção estariam cerradas para todo aquele que não concordasse em atuar no campeonato oficial. Nem que isso comprometesse as chances de o Brasil se reerguer nos Mundiais de 2006 e na Olimpíada de 2008. A chantagem deu certo. Qual cordeirinhos, um a um os atletas com potencial de convocação pediram abrigo nos clubes chapa branca.

Que a Nossa Liga se contentasse, então, em compor seus times com veteranos e com desgarrados, jogadores que haviam sido esquecidos pelo mercado? Esqueça. O establishment, guloso, agora fala em cassar o registro federativo de quem servir os "rebeldes".

As retaliações também envolvem patrocinadores, burocratas do Pan de 2007 e do Mundial feminino de 2006 e detentores dos direitos de televisão. Mas essa triangulação é ainda mais cabeluda e fica para outra coluna.

E quem não concordar com tudo isso? Que vá para o inferno. Quer dizer, para a Justiça desportiva. Antes, claro, deverá pagar a recém-fixada taxa de R$ 5.000 por apelo -uma fortuna diante do quadro de miséria em que a modalidade se encontra.

De tão sórdida, essa campanha é até admirável. Demorou, mas finalmente o basquete vê a CBB empenhada em alguma coisa.

Tutano 1
Lucas Tischer por pouco não emplacou no Phoenix Suns, time grande da NBA. De volta ao Brasil, podia pensar só no seu -fechar por uma boa grana com um clube pró-CBB e ficar mais perto da seleção. Em vez disso, preferiu socorrer o "rebelde" São José dos Pinhais (PR). Vai jogar de graça. "Meu maior sonho é defender o Brasil, mas acho que ajudarei mais o basquete se jogar a Nossa Liga agora", explicou o raçudo pivô. Tischer, 22; Nenê, 23; Varejão, 23; Marquinhos, 21... No basquete nacional, é a molecada quem fala grosso.

Tutano 2
A história primeira edição feminina da Nossa Liga começa nesta noite com Piracicaba, Niterói, São Bernardo, Pindamonhangaba e Santos. E sem Janeth, que preferiu a boa grana do basquete espanhol.

E-mail
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Fonte: Folha de São Paulo

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