quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

MATERNIDADE

Titulares Paula Pequeno e Adrianinha, grávidas, podem desfalcar equipes de vôlei e basquete nos Mundiais

Cegonha liga sinal de alerta em seleções



ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL


Mães sorridentes, barrigas crescendo e uma enorme dor de cabeça. É assim que começa o ano das seleções femininas de vôlei e basquete. O ano em que as equipes irão buscar o título mundial.
Figuras fundamentais nos esquemas dos dois times, a ponta Paula Pequeno e a armadora Adrianinha podem ficar fora do principal torneio do próximo ano por causa da visita da cegonha.
A notícia das gravidezes surpreendeu a todos, inclusive as próprias jogadoras.
"A Paula estava num período muito bom. Profissionalmente, não fiquei feliz. Ela terá sua evolução comprometida. É uma incógnita o que vai acontecer, mas tenho de me planejar sem ela. Como amigo, desejo que tudo corra bem. A vida dela vai se transformar, o filho trará mais maturidade", avalia José Roberto Guimarães, técnico da seleção de vôlei que buscará o título inédito.
A atacante, eleita a melhor jogadora do último Grand Prix, está com pouco mais de três meses de gestação. Terá uma menina, Mel, filha do namorado, Alexandre Folhas, 30, jogador de handebol .
Apesar da gravidez, Paula, 23, continua a defender seu clube, o Osasco. E diz que vai atuar enquanto a barriga permitir.
A atacante recebe acompanhamento integrado de sua ginecologista com a equipe médica do time. Para manter a forma, faz exercícios especiais de Pilates e de fortalecimento das articulações, que estão mais "frouxas".
Nos anos 80, a ex-jogadora Isabel, 45, chamou atenção ao exibir seus quase seis meses de gestação da filha Maria Clara nas quadras. Ela só não jogou antes de ter Pilar, a mais velha de seus quatro filhos, mas continuou treinando. Logo após o parto foi para a seleção.
Neste ano, a atleta de basquete Silvia Gustavo, de 23 anos, quebrou o "recorde" e jogou até três dias antes do parto. Ela não sabia que esperava um filho.
"Está normal. Só evito alguns exercícios e protejo a barriga nas quedas, é instintivo", diz Paula. "Sei que a gravidez pode atrapalhar meu ano na seleção, mas vou continuar me dedicando. Ainda terei muitas chances", diz ela, que precisa recuperar a forma até novembro, mês do Mundial.
Adrianinha, 27, vive situação completamente oposta.
A gravidez da atleta gerou conflito com o Penta Faenza, seu antigo clube. A brasileira chegou em 2001, quando o time era o penúltimo do Italiano, e o ajudou a não cair. Na temporada passada, já capitã da equipe, foi vice-campeã.
"Eles [dirigentes] entenderam que eu havia planejado. Mas foi inesperado também para mim. Queria jogar mais três meses, mas não me trataram bem. Por isso pedi rescisão do contrato", diz.
Desempregada, a atleta seguiu para Reggio Calabria, onde joga seu namorado, o norte-americano Arthur James Guyton, 27, ala-armador do time local.
Acostumada à rotina estafante de treinamentos e jogos, Adrianinha estranhou a tranqüilidade da gravidez. "No começo é muito difícil. Não tem nada para fazer."
Agora, arrumou um novo passatempo. "Estou aprendendo a cozinhar. Vou inventando pratos diferentes para ele [namorado]. Estou gostando da vida de dona-de-casa. Outro dia fiz uma torta de frango que ficou deliciosa."
Única armadora de origem entre as selecionáveis mais experientes do Brasil e queridinha do treinador Antônio Carlos Barbosa -foi revelada no Campinas, quando ele era técnico-, Adrianinha vai escolher o local do parto, que deve acontecer entre maio e junho, de acordo com a convocação para a seleção.
Apesar de o Mundial ser em setembro, cerca de três meses após o parto, Barbosa acredita que poderá contar com a jogadora.
Em 1996, Hortência ajudou o Brasil a conquistar a medalha de prata em Atlanta após ter o primeiro filho, em fevereiro.
Se seguir o mesmo caminho, Adrianinha terá o bebê no Brasil.

Médicos divergem sobre prazo para volta pós-parto

DA REPORTAGEM LOCAL

O retorno de uma atleta a suas atividades após o parto pode ser de até seis semanas. Segundo Ricardo Barini, professor de Obstetrícia na Unicamp, esse é o prazo para o corpo da mulher voltar ao normal.
"É o tempo em que o útero volta ao tamanho original e o coração retorna à atividade normal", explica o médico.
Para outros especialistas, porém, o período pode ser menor. Laércio Ricco, médico do time de Osasco, crê que Paula Pequeno, possa já treinar após semanas. "Mas tudo depende de como será o parto, a gestação e o ritmo dela com o bebê."
César de Oliveira, da seleção feminina de basquete, também diz que a recuperação depende de cada organismo.
O peso acumulado na gestação é outro fator importante. "Se a mãe engorda mais do que 20% de seu peso, pode demorar até seis meses para recuperar a forma", diz Barini.
A atuação na gravidez também é encarada de formas diferentes. Todos fazem apologia do esporte mas, para alguns, o impacto do alto-rendimento pode não ser saudável. Especialistas que trabalham com atletas, porém, dizem que sob supervisão médica, elas podem competir.


Fonte: Folha de São Paulo

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