domingo, 24 de setembro de 2006

Fiba omite críticas e Brasil sonha com novos eventos

Marta Teixeira



São Paulo (SP) - Ao contrário do que normalmente ocorre, a diretoria da Federação Internacional de Basquete (Fiba) não deu entrevista coletiva no encerramento do Campeonato Mundial feminino de basquete. Ao invés disso, distribuiu uma nota com os comentários de seu presidente, Bob Elphinston, sobre o evento.
No texto, a entidade não faz referência a problemas estruturais ou de organização. Limita-se a elogiar o nível competitivo do evento, que para o presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Gerasime Grego Bozikis, foi um sucesso.

Mesmo com as críticas diretas do secretário-geral da entidade, Patrick Baumann, à baixa presença de pública e com as goteiras no ginásio do Ibirapuera no encerramento da primeira fase da competição, Grego considera que a situação ficou sob controle. 'Nossa relação com a Fiba é excelente. Eles são muito críticos, mas ficaram contentes com o que aconteceu aqui. Tivemos alguns problemas sim, mas todos nos desdobrávamos para resolvê-los o que não é tão comum em outros países'.

Legislando em causa própria, usou o Mundial de 2002 como exemplo negativo. 'Oferecemos melhores hotéis, transporte e segurança para as equipes e contávamos com quatro ginásio para treinamento. Na China, quatro seleções treinaram em meia quadra, que tinha piso de salão de baile com pilastras no meio'.

O dirigente reafirmou a confiança nas chances brasileiras de voltar a ser sede de um evento internacional de ponta. 'A Fiba é muito exigente, mas isso é bom para nós que podemos melhorar. Para os próximos torneios que virão teremos o Ibirapuera, que ganhou este piso e agora também é casa de basquete, e mais duas arenas maravilhosas no Rio. Com certeza traremos mais eventos de porte para nosso país porque temos vocação esportiva e sabemos organizar'.

Arrumar a casa - Os problemas envolvendo a organização do Campeonato Mundial não foram as únicas preocupações expressas pelo secretário Baumann anteriormente. Além deles, o dirigente comentou a crise interna da modalidade na última temporada.

Dois campeonatos nacionais foram realizados. Um organizado pela CBB, que ainda aguarda definição após várias liminares da Justiça Comum, e outro pela Nossa Liga de Basquetebol (NLB). A situação levou a um racha entre as equipes que, na conclusão da campanha, decidiram que a reunificação era a alternativa para manter a estabilidade do esporte.

De olho no processo, Baumann mandou um recado. 'O basquete brasileiro tem sorte porque tem grandes talentos. O que precisa é ganhar. Em casa, devem acabar com as brigas porque se brigarem vão perder anos, gerações sem obter resultados'.

Barbosa: pára ou continua?

Marta Teixeira


São Paulo (SP) - O destino do técnico Antônio Carlos Barbosa na seleção brasileira ainda está por ser decidido. Pelo menos é o que afirmam o treinador e o presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Gerasime Grego Bozikis, após o encerramento do Campeonato Mundial feminino, em São Paulo. 'Não é momento ainda para falar sobre isso. Precisamos tirar um pouco da tristeza para pensar sobre isso depois', diz Grego.
Se depender da satisfação do dirigente, Barbosa tem tudo para permanecer na função. 'É um orgulho ficar na quarta posição. Claro que tínhamos esperança de um pouco mais, mas as americanas não iam perder dois jogos seguidos'.

O Brasil chegou à disputa pelo bronze, mas acabou superado pela seleção dos Estados Unidos, que venceu o confronto por 99 a 59. Nas semifinais, as brasileiras foram eliminadas pela Austrália, enquanto as norte-americanas tropeçaram na Rússia.

'Os Estados Unidos fizeram uma grande partida porque vieram do jogo contra a Rússia e queriam provar que aquela era uma situação anormal', avalia Barbosa. 'Esta é uma equipe que já é forte, com pivôs altas e que teve um grande aproveitamento. Aí, você se torna presa e é difícil de sair'.

Sobre seu futuro na seleção, o treinador garante estar despreocupado. 'Eu não tenho interesse nenhum em ficar em lugar nenhum. Minha preocupação é com a utilidade. Não quero entrar em festa pela porta dos fundos ou como penetra'.

Para ele, a decisão deve passar por critérios técnicos. 'A Confederação deve avaliar o trabalho e ver se convém que eu continue. Tenho a consciência muito tranqüila sobre o que foi realizado', analisa, usando a festa feita pela seleção francesa após a conquista do quinto lugar como um exemplo. 'Na Europa, costumam premiar o quarto colocado'.

Barbosa está no comando da seleção desde 1997. Neste meio tempo, a seleção conquistou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney-2000 e a quarta posição na edição de Atenas-2004, o Pré-olímpico de Culiacán-2003, os bronzes nos Pan-americanos de Caracas-83 e Santo Domingo-2003 e cinco títulos sul-americanos (1997, 99, 2001, 03 e 05). Em Mundiais, o Brasil foi quarto na Alemanha-98 e sétimo na China-2002.

Avaliando o histórico internacional brasileiro, o treinador acha que o resultado é positivo. 'Nunca tivemos a supremacia no basquete como Estados Unidos ou Rússia'. Às críticas feitas a seu trabalho, ele responde com sarcasmo. 'Eu vou pela maioria. Três, quatro ou cinco me chamaram de burro (após a derrota para os EUA)... Isso vem da cultura do futebol. Se pagaram ingresso têm o direito. Quem não tem direito é quem não pagou'.

Seleção: otimismo e dúvidas para o futuro

Marta Teixeira


São Paulo (SP) - Janeth 37, Alessandra 32, Helen 34... para a seleção brasileira feminina de basquete, o Campeonato Mundial, encerrado neste sábado, em São Paulo, marcou o início de uma reformulação que pode ser intensa para os Jogos Olímpicos de 2008. Com algumas de suas titulares confirmando a despedida e outras pensando no assunto, o Brasil enfrenta o desafio de se manter competitivo internacionalmente.
Nas três últimas Olimpíadas, o país chegou às disputas por medalha. Foi prata em Atlanta-96, bronze em Sydney-2000 e quarto colocado em Atenas-2004. Em Mundiais, após o título de 1994, foi duas vezes quarto colocado - 98 e 2006 - e uma vez sétimo, 2002.

Apesar da perspectiva de perder algumas jogadoras de referência, o técnico Antonio Carlos Barbosa está otimista. 'Temos uma boa base de renovação', avalia. 'O que temos de fazer é uma programação de amistosos para que se habituem a disputar as competições'.

Na seleção atual, já há um grupo considerável para fazer a transição da era Janeth/Alessandra para a próxima. A pivô Kelly, 26 anos, já esteve em duas Olimpíadas (Austrália e Grécia). A situação é a mesma da armadora Adrianinha, 27 anos. A ala Iziane e a pivô Érika, ambas de 24 anos, representam o meio de campo com uma Olimpíada a seu favor e já são apontadas como pontas de lança para o futuro.

'A Iziane hoje é uma líder', garante a veterana Alessandra. 'Assim como Érika também é. Tenho certeza que este grupo vai conseguir manter a seleção entre as melhores como nós conseguimos. Quando Paula e Hortência saíram, diziam: é o fim do mundo. Mas nós conseguimos segurar a situação e somos o quarto do mundo (no Mundial e pelo ranking da Fiba). Ninguém é insubstituível e assim como nós fizemos, elas também vão fazer. Vamos torcer por elas'.

Participante de todas as conquistas nacionais nos últimos 20 anos e representante da transição da geração anterior, Janeth também acredita no potencial de quem está chegando. Destacando o talento de Micaela, Adrianinha e Cíntia, a ala só acha que o grupo terá cada vez mais de trabalhar em conjunto para obter seus resultados.

Barbosa concorda que o futuro imediato é promissor, mas destaca que a longo prazo a situação pode se complicar. A dificuldade é a mesma de sempre: limitação no trabalho de base, que é realizado por poucos clubes hoje em dia.

Para complicar, quem sai das categorias menores não tem certeza de encontrar emprego na adulta pois é cada dia menor o número de equipes principais em atividade. 'Temos time para cinco, seis anos. O problema da renovação é a partir daí', ressalta.

No grupo atual, o treinador aposta no futuro das alas Karen e Micaela (22 e 27 anos) e diz que gente promissora ficou de fora. Os exemplos são Palmira, cortada na última lista, Isabela e Jaqueline, que só não foi convocada porque disputava torneio com a seleção sub-20. Além das pivôs Ísis, Graziane e Flávia.

Mas mesmo na 'fartura' imediata há carências. A dificuldade é a distribuição de talentos por posição. 'Na armação nós temos problema', explica Barbosa. A solução é tentar prevenir para não ter de remediar na última hora. Isso o levou a iniciar um trabalho para transformar Jaqueline e Palmira em armadoras.

'Temos material até 2012. Depois disso é que a coisa se complica, se o Brasil não aproveitar eventos como este (Mundial) para fazer um trabalho de massificação', alerta, fornecendo um dado estatístico para ilustrar a gravidade do tema. 'O Joãozinho (o preparador físico João Antonio Nunes) tem um levantamento indicando que nos Estados Unidos para cada 476 mil jogadoras, uma chega à seleção'. No Brasil? 'É um para um', compara.


Fonte: Gazeta Esportiva


Nenhum comentário: