quinta-feira, 31 de julho de 2008

Pedras de Pequim: ESPANHA


A Espanha estreou nos Jogos Olímpicos no mesmo ano do Brasil, em 1992, na condição de sede da competição (Barcelona). Com a belíssima Blanca Ares, mais Carolina Mújica, Ana Belén Álvaro, Elizabeth Cebrián e Marina Ferragut, as donas-da-casa chegaram à quinta colocação.

Dinheiro nunca faltou ao basquete do país, que desde o final da década de 80, já se posicionava ao lado da Itália, ostentando os melhores elencos do mundo, em clubes. Na Espanha inclusive, Magic Paula teve sua primeira experiência internacional: no Tintoretto (1989). Em 92, o famoso Dorna exibia em quadra dois dos maiores mitos da modalidade: a russa Natalya Zazouskaya e a americana Kathrina McClain, que formavam uma dupla infernal no garrafão.

Apesar do dinheiro, faltava (e ainda falta) uma melhor distribuição dele. E maior qualidade no trabalho, com treinos técnicos e físicos deixando a desejar.

A preparação para a primeira Olimpíada acabou servindo de impulso para algumas alterações nessa estrutura. E só assim, a Espanha voltou a disputar a competição, doze anos depois, em Atenas-04, quando acabou na sexta posição.

Mesmo evoluindo no trabalho de formação, mantendo uma liga disputada, com catorze equipes na divisão principal e mais vinte e quatro na divisão de acesso, a seleção espanhola ainda não despontou de fato no cenário internacional e segue sem medalhas nos grandes torneios. Ocupa a quinta posição no ranking FIBA.

Uma das razões está no excesso de estrangeiras na Liga, que limitam a atuação das pratas da casa. No último campeão nacional (Ros Casares), por exemplo, havia nada menos que sete: as russas Elenas (Baranova e Tornikidou), a brasileira Érika, as americanas Katie Douglas e Delisha Milton, a grega Evahthia Maltsi e a sérvia Milka Bjelica. Mesmo nas equipes mais humildes, o cenário não muda muito, com uma legião de estrangeiras (incluindo muitas brasileiras) invadindo o espaço.

Além disso, o ambiente dentro da seleção parece não ser dos mais harmoniosos, conforme sugere recente artigo da imprensa local. Segundo o autor, depois da eliminação para o Brasil, em Atenas-04, as principais jogadoras teriam arquitetado a queda do técnico, Vicente Rodríguez, com quem a relação nunca havia sido pacífica. Depois do Mundial do Brasil-06, o mesmo grupo de jogadoras teria decidido pelo afastamento da ótima Marta Fernandes, incomodado por dividir as atenções com a nova estrela.

Por falar em estrela, o grande nome espanhol é a ala Amaya Valdemoro, 32 anos, 1,81m. Excepcional jogadora, arremessadora furiosa e dedicada aos demais fundamentos, a espanhola é uma das grandes estrelas da modalidade. Pena que, mais uma vez, esteja enfrentando sérios problema físicos, o que não é novidade alguma em sua carreira. Há algum tempo, Amaya tem freqüentado as principais competições no limite. Ainda assim consegue brilhar, mesmo mancando em quadra ou portando uma parafernália de protetores articulares. Em Pequim, não deve ser diferente. Em blog que Amaya mantém para um dos patrocinadores dos Jogos, ela resume os últimos dias: "Foram terríveis. Não desejo a ninguém o que passei. Quase não dormi, chorei muito. Até o último momento, não sabia se estaria em Pequim(...)". Depois de dois anos no CSKA (Rússia), Amaya voltará à Espanha na próxima temporada, pelo Ros Casares. A ala procurou, mas não encontrou seu espaço na WNBA, onde jogou por três anos no Houston. No Pré-Olímpico, esteve muito perto dos 20 pontos de média. No Europeu-07, foi eleita a MVP, após perder o ouro para a Rússia.

Um dos grandes destaques atuais da seleção é a ala-pivô Anna Montañana, de 28 anos, 1,86m, que jogou a última temporada no Avenida, ao lado de Alessandra. Muito versátil e inteligente, tem se tornado uma das referências da seleção no garrafão, se encaixando bem no perfil moderno para a posição 4. Mas é muito frágil para o confronto com pivôs mais pesadas, e é aí que mora uma das grandes deficiências da Espanha, principalmente quando o jogo de velocidade e arremessos de longa distância não funciona.

Outra jogadora que vive boa fase (talvez, seu auge) é a armadora Elisa Aguilar, do Ros Casares. A armadora, de 31 anos e 1,72m é uma ótima arremessadora dos três pontos e real comandante do grupo, para a qual o clichê "técnico em quadra" é verdadeiro.

A armadora Nuria Martinez, 24 anos, 1,72m é a novidade do time para Pequim. A jogadora retorna, após uma contusão que a tirou do Pré-Olímpico. Apesar de jovem, é uma armadora segura e excelente defensora, além de apta para definir. Filha de uma jogadora de basquete, sempre procurou a evolução na carreira, desde cedo. Teve uma rápida passagem pela WNBA. Nas duas últimas temporadas esteve no Dynamo de Moscou. Para a próxima, assinou com o Schio (da Itália), onde deve jogar ao lado de feras como Candice Dupree e Alisson Feaster.

A ala Laia Palau, 22 anos, 1,78m experimentou fantástico crescimento desde que foi treinada por Carmen Lluveras, no Barcelona. A partir daí, assumiu papel de importância também na seleção. Bastante veloz, joga com muita habilidade no "um contra um", e ainda defende acima da média. Às vezes, a irregularidade a ataca. Joga atualmente no Ros Casares.

No banco, um dos nomes que chama a atenção é Cindy Lima, de 1,96m. Destaque da Liga Espanhola pelo San Jose, a pivô de 27 anos, só recebeu as primeiras convocações no ano passado, depois de ser insistentemente preterida. Rapidamente conquistou seu espaço e o respeito das companheiras, mas ainda tenta desenvolver maior traquejo ofensivo.

A ala Isabel Sanchez, 1,79m, é outra opção segura no banco. Aos 31 anos, chegou tardiamente à seleção, após anos de árdua dedicação em clubes pequenos da Espanha. Jogou a última temporada no Avenida.

A ala-pivô Tamara Abalde, 1,93m, 19 anos é a maior promessa do basquete espanhol. Após uma temporada da NCAA, acertou retorno à Espanha, pelo Ros Casares, mas será cedida ao Rivas, mesmo clube de Franciele.

A jovem lateral Alba Torrens, 19 anos, 1,85, do Celta, é outra novidade. Foi cestinha da recente vitória contra a Rússia, em amistoso.

Também do Celta, vem a pivô Laura Nichols, 19 anos, 1,89, a quem o técnico Evaristo Peréz define como "duríssima na defesa e um ímã para os rebotes".

O elenco ainda conta com mais duas jogadoras do San Jose: a pivô Lucila Pascua, 25 anos, 1,96, que apesar do potencial, tem tido dificuldades em se firmar na seleção, e a ala Maria Revuelto, 1,79m, 26 anos.

A Espanha estréia no dia 9, contra a anfitriã China. Depois, pega Nova Zelândia, República Tcheca, Estados Unidos e Mali.

2 comentários:

Marcos disse...

Como diria aquela rede de fast food:
Espanha = Odeio muito tudo isso.

Anônimo disse...

Espanha = Amo MUITO tudo isso.
Se os atletas brasileiros (grande parte) tivessem a metade da garra e patriotismo dos espanhois e argentinos, o Brasil seria uma das potências do esporte mundial.
Às vezes, vestir a camisa só quando entra em quadra ou em campo não é o suficiente. Parece que muitos não sabem a diferença entre "SER" ATLETA e "ESTAR" ATLETA.
Acho que nós, torcedores ou familiares, temos mais garra que muuiitos atletas que vão para um campeonato importante ou mesmo uma Olimpíada.
Talvez confundam "ano olímpico" com "semana de carnaval".
Como brasileiro, acredito SEMPRE!