sábado, 26 de julho de 2008

Pedras de Pequim: RÚSSIA


Grande potência da modalidade, a Rússia ainda reescreve sua história nos Jogos Olímpicos. Em 1992, muitas jogadoras russas estavam na seleção da CEI, que ficou com o ouro em Barcelona-92. De volta aos Jogos, as russas falharam em alcançar as semifinais em Atlanta-96 e Sydney-00 (nessa última, eliminadas pelo Brasil). Doze anos depois, o time voltou ao pódio, em Atenas-04, quando bateu o Brasil na decisão do bronze.

Já em Mundiais, o time vem de três pratas consecutivas (98, 02 e 06).

Em Pequim, a meta do time de Igor Gudin é chegar mais longe. A histórica vitória sobre as americanas nas semifinais do Mundial do Brasil-06 é o grande impulso para a nova geração russa. Grudin acredita que, enfim, seu time está alcançando a maturidade, incorporando maior habilidade na defesa e mantendo sua característica de velocidade, mas sem apelar para o tentador pecado da precipitação.

Um dos grandes empecilhos para que as russas apresentem uma maior regularidade em quadra tem sido o próprio basquete russo. Com o reaquecimento da liga local, o aumento de investimentos trouxe uma legião de estrangeiras de altíssimo nível para os clubes russos. Muitas delas acabam diminuindo a participação das russas nos times. As que continuam jogando enfrentam uma temporada longa, extremamente desgastante, que concilia viagens pela SuperLiga Russa e pelos torneios continentais (EuroLiga ou EuroCopa).

Entre as vitimadas por esse esforço excessivo, está a grande estrela do time, a pivô Maria Stepanova, de 29 anos e 2,03m. Temendo não tê-la em condições ideais, Grudin concedeu um descanso à pivô antes do início da preparação olímpica, assim como fez antes do Europeu-07, quando a Rússia conquistou o ouro, batendo a Espanha, na final. Um bom rendimento de Stepanova é fundamental para a seleção. A pivô domina com maestria o garrafão, colecionando double-doubles (no Europeu, teve médias de 13,8 pontos e 10 rebotes) e atormentando as adversárias com seus tocos. Por duas vezes consecutivas eleita a melhor jogadora da Europa, a pivô defende o CSKA desde 2003. Em entrevista durante o Europeu, Stepanova tentava explicar as oscilações da equipe, que havia caído contra a Sérvia: "É uma questão psicológica. Precisamos perder, para só então reagir e ganharmos."

A irregularidade já apareceu na fase de preparação, com uma derrota inesperada para a Espanha, nessa semana.

Ao lado de Stepanova, haverá uma estreante na seleção russa disputando os holofotes. E nem russa ela é. A excelente armadora americana Becky Hammon, 31 anos e 1,68m, será o grande trunfo do técnico Grudin. Rejeitada pela comissão técnica americana, Becky aceitou a proposta de defender a Rússia, onde joga durante suas férias na WNBA (também no CSKA). Em meio à polêmica decisão, Becky tem feito uma temporada muito boa pelo San Antonio, com médias de 18 pontos e 5 assistências por jogo. Resta saber como ela será incorporada à seleção e em que ponto o curto período de treinamento irá prejudicá-la. Becky ficou com a vaga que, no Mundial, pertenceu à Ekaterina Demagina.

A segunda estrela genuinamente russa é a armadora Ilona Korstine, 28 anos, 1,83m. Veloz, bela e extremamente graciosa em quadra, Korstine capta as atenções. Tem um bom entendimento com Stepanova, com quem joga também no clube (o CSKA) e um excelente posicionamento de rebote. Seu jogo ainda peca no fraco aproveitamento de três pontos, algo que ela vem tentando melhorar. Justamente aí deve residir uma dos grandes vantagens que Becky poderá oferecer às russas: maior fôlego nos tiros de longa distância.

A disputa na armação esquenta ainda mais com a presença da veterana Oxana Rakhmatulina, 32 anos, 1,80m. Embora pontue com eficiência e tenha sido a cestinha na histórica vitória contra as americanas, em 2006; Oxana se sacrifica em nome do equilíbrio da equipe, na qual funciona como uma grande líder, dentro e fora da quadra. Joga no Ekaterimburg.

Nas laterais, a Rússia tem um desfalque importante: Olga Arteschina, 26 anos, grávida. Não falta, no entanto, qualidade às suplentes.

Uma das candidatas é Natalia Vodopyanova, 27 anos, 1,88m, que desfalcou a seleção nos amistosos dessa semana. Apesar de ser uma ótima jogadora, não conseguiu se firmar na WNBA. Depois de quatro temporadas na Polônia, voltou ao basquete russo. Defendeu o Ekaterimburg, na última temporada. Apesar de colaborar muito no poder de rebote da equipe, tem deixado a desejar no ataque.

A ala Svetlana Abrosimova, 28 anos e 1,88m é a outra grande opção. Jogou no universitário americano pela Universidade de Connecticut, sendo selecionada pelo Minnesota Lynx na sétima escolha do draft de 2001. Decidiu não jogar a temporada 2008 da WNBA para se recuperar de uma pequena lesão no tornozelo e poder treinar com a seleção. Evoluiu muito na temporada de 2007 da WNBA, onde teve médias de 10,2 pontos, 4,4 rebotes e 2,5 assistências. Atualmente no Spartak, Abrosimova tem trajetória discreta com a seleção russa, principalmente pelos conflitos com o técnico anterior (Vadim Kapranov).

A ala-pivô Tatiana Schegoleva deve ser presença certa no garrafão ao lado de Stepanova. Aos 26 anos, com 1,92m, Tatiana usa a agilidade como sua principal característica. A leveza, no entanto, às vezes lhe desfavorece em garrafões com adversárias corpulentas. Conhecida por ser extremamente guerreira, causou sensação na Rússia, no ano passado, quando bloqueou um chute de Vitali Fridzon, armador russo, em uma partida comemorativa. Também defendeu o Spartak, na última temporada.

No banco, Marina Karpunina, armadora, 24 anos, 1,78m busca seu espaço em meio à dura concorrência no clube (Spartak) e na seleção. Situação bastante semelhante vive sua xará, Marina Kuzina, pivô, 23 anos, 1,85m, do Dynamo de Moscou.

Filha do assistente técnico da seleção, a ala Irina Sokolovskaya, 23 anos, 1,87 não participou do último Mundial, quando a eleita foi Elena Karpova. Com pouco espaço no CSKA (8 minutos em média, na EuroLiga), tem procurado se aprimorar nos arremessos de longa distância.

Destaque da fase inicial de preparação, a pivô Irina Ossipova, de 27 anos e 1,96m é conhecida pelo temperamento difícil, que acabou limitando seu crescimento nos clubes e na seleção. Defende o Spartak.

Completando o plantel, há Ekaterina Lisina, a mais jovem do grupo. A ágil Lisina, pivô, de 1,98m e 21 anos, saiu cedo da Rússia. Foi jogar no Pécs, da Hungria, aos 16 anos. Em uma partida da EuroLiga, enfrentou o CSKA, de Stepanova e chamou a atenção ao dar 2 tocos na compatriota. Atuações como essa garantiram um lugar à jovem no time russo no Mundial-06. Hoje, Lisina joga no antigo rival CSKA.

A estréia da Rússia, no dia 9 de agosto, é contra a Letônia. Depois, enfrenta a Coréia (11), a Bielorrússia (13), o Brasil (15) e repete a decisão do último Mundial com a Austrália (17).