sexta-feira, 4 de maio de 2012

Entrevista – Lilian Gonçaves: “O Vagos é uma grande alegria para mim”

Lilian Gonçalves Em vésperas dos embates mais esperados da Liga Feminina, quisemos saber como está a equipa da AD Vagos a preparar os "jogos do ano" que começam já este fim de semana (sábado e domingo às 15h30) no pavilhão do Algés. Para tal, nada melhor que falar com quem tem muitos anos de experiência - e títulos - e sabe o que é viver estes momentos. Lilian Gonçalves, extremo internacional brasileira, teve a gentileza de nos conceder uma entrevista onde nos abre páginas douradas do livro da sua vida, fala da sua experiência em Portugal e esmiúça o que será esta final.

- A Lilian é a jogadora mais experiente da AD Vagos e tem um currículo impressionante. Como nasceu a Lilian para o basquetebol?

Comecei a jogar basquetebol por convite de uma amiga, quando tinha 8 anos. Na minha cidade, havia um grande trabalho de formação e foi nas “escolinhas” de Sorocaba que me iniciei na modalidade. Mas a equipa acabou quando tinha 15 anos e tive a oportunidade de sair da minha cidade para jogar. Foi um grande desafio para mim porque tive de optar e ficar longe da minha família. Nesta altura fui para o BCN, equipa onde completei a minha formação com a ajuda de grandes técnicos. Depois disso, subi a sénior e passei por grandes equipas no Brasil.

- O profissionalismo foi, portanto, uma opção de vida natural…

Sim, acredito que o meu desempenho e sucesso nos escalões de formação foram determinantes para me tornar profissional.

- Quando é que isso aconteceu?

No Brasil, isso acontece muito cedo. Aos 15/16 anos já fazia treinos bidiários, num total de 11 treinos por semana, e ainda estudava à noite.

- Decerto que guarda muitos bons momentos ao longo da carreira. Chegou muito jovem à seleção brasileira e conquistou vários títulos, tanto em clubes como pela seleção. Quais foram os mais marcantes?

Quanto aos clubes, lembro-me com carinho de dois: um título paulista pelo BCN-Osasco, onde me afirmei como sénior, já que a treinadora Maria Helena apostou em mim numa final quando ainda estava no meu último ano de júnior. O outro foi um título brasileiro conquistado pelo Americana. Não éramos favoritos e ganhámos em casa do adversário. Foi um momento em que constatei realmente que o trabalho faz a diferença.

- Mas a presença nos Jogos Olímpicos de Sidnei também foi um deles, não?

Sim, claro. A medalha de bronze é, com certeza, um momento especial. Era muito nova e estar na seleção não era fácil, tinha muitas jogadoras de qualidade.

- E qual é a sensação de receber uma medalha olímpica?

É difícil transformar isso em palavras. É uma alegria imensa saber que você está ali, entre as melhores do mundo. É o reconhecimento de todo um trabalho, de todas as provações que uma vida de atleta exige.

- A Lilian tem uma forma de estar muito “europeia”, mas o Vagos foi a sua primeira aventura fora do Brasil apesar de todo esse sucesso. Porque não apostou mais cedo no estrangeiro?

Tive outras oportunidades de sair do Brasil mais cedo. Na primeira vez era muito jovem e achei que ainda não era o momento. Sentia que precisava aprender mais e afirmar-me como jogadora no meu país. Depois tive alguns convites, mas em momentos que eu estava muito bem e em grandes equipas. Foi uma opção. Mas sempre tive a vontade de jogar na europa.

- Esta é a segunda época no Vagos. Sente-se identificada com o basquetebol praticado em Portugal?

Sim, sinto-me em casa. Ouvi várias vezes os técnicos brasileiros dizerem que o meu jogo era muito técnico e que me encaixaria bem na Europa. Acho que isso facilita muito. Não tive qualquer dificuldade com a adaptação aqui, seja dentro ou fora do recinto de jogo.

- No seu entender, quais são as grandes diferenças entre o basquetebol português e o brasileiro?

Acho que a grande diferença é o profissionalismo. Lá, começa-se muito cedo com treinos bidiários, desenvolvendo assim um tabalho mais individualizado pela manhã, com aspetos técnicos, e à tarde um treino mais tático. O trabalho físico é realizado com muita ênfase desde os escalões jovens, deixando uma base muito sólida.

-Uma aposta forte, portanto, na formação?

Sem dúvida.

- O último campeonato conquistado pelo Vagos foi um ano antes de chegar. Acha que o Vagos tem tudo para vencer a Liga este ano?

Eu acredito muito nisso. E é pensando nessa nossa capacidade de conquistar o título que trabalho todos os dias.

- Notou-se que a Lilian esteve muitos furos abaixo do normal no início da época. A lesão intercostal foi a razão principal?

Acho que isso atrapalhou, sim. Mas penso também que um atleta não se pode apresentar 100% física, tática e tecnicamente no início da época. É para isso que existe uma periodização, para que o atleta venha em ascendência durante a competição e consiga conciliar o melhor desempenho com a fase mais importante da competição.

- Mas desde dezembro que o seu nível exibicional subiu bastante. Vamos ter a Lilian a jogar na sua melhor forma nesta final?

O que espero é ver toda a equipa jogar na sua melhor forma. Temos jogadoras fantásticas no grupo e, jogando bem, tenho a certeza que alcançaremos o nosso objetivo. Eu quero poder contribuir com o que tenho de melhor.

- No dia do seu aniversário, 25 de abril, não teve o presente que mais desejaria, que era a vitória na Madeira. Mas a equipa retificou vencendo os dois jogos em casa e vai jogar a final com o Algés. O título seria um presente retardado?

Seria um grande presente! E atenção, eu não me importo, nem um pouco, que o presente chegue atrasado…

- Vagos e Algés foram as equipas mais fortes na fase regular e são as finalistas mais esperadas. O que é preciso fazer para superar este adversário?

Acho as duas equipas extremamente equilibradas. Além disso, são equipas que se conhecem muito bem. Creio que uma defesa que condicione determinadas jogadoras será importantíssimo, aliada a um ataque dentro dos nossos padrões de aproveitamento. Mas não tenho dúvida que será uma final disputadíssima, como têm sido sempre as finais contra o Algés.

- Mudando de assunto, que leitura faz da participação do Vagos nas competições europeias?

Acho que temos que reconhecer e felicitar as pessoas que lutam para participar nessas competições. Acredito que jogos difíceis como os que enfrentamos nas competições europeias dão à equipa uma “bagagem” que não tem preço. Aprende-se muito com esses jogos e, embora muitas pessoas critiquem a “falta” de vitórias, eu acredito que a equipa só ganha. Ganha amadurecimento, conhecimento do jogo, experiência internacional e aprende a suportar um jogo mais físico, com mais contactos.

- O que falta ao Vagos para se impor na Europa?

É importante lembrar que jogamos com equipas que têm mais de 5 estrangeiras, e noutros países pode-se jogar com mais. Além disso, a nossa equipa tem um plantel extremamente jovem, a maioria é Sub20. Acredito que Vagos está no caminho certo, e um exemplo disso foram os jogos duríssimos que fizemos este ano. Quase ganhámos à toda poderosa equipa turca em casa, perdendo por um ponto no último segundo.

- Dada a sua experiência e passado na seleção brasileira, se Tarallo abrisse as portas para voltar, qual seria a sua reação?adv brasucas com taça

Eu sempre estive pronta pra servir a seleção do meu país. Não seria diferente agora.

- Sente falta das convocatórias?

Acho que a vida de atleta tem alguns ciclos. Eu fiz parte da seleção durante 8 anos. Já fiquei muito triste noutros anos em que não fui convocada. Agora acho natural que exista uma renovação e isso faz com que eu já não conte com a convocação.

- Quer deixar uma mensagem para as suas compatriotas que vão estar nos JO de Londres?

Espero que todas possam estar no seu melhor, que consigam desempenhar o basquetebol de grande qualidade que realizam nos seus clubes e que ganhem mais uma medalha para o Brasil.

- Já fez planos para a próxima época?

Ainda não. De momento, a única coisa que tenho na cabeça é a fase final do campeonato.

- Gostava de ficar mais um ano em Vagos?

O Vagos é uma grande alegria para mim. É sempre bom estar num clube onde existe respeito, profissionalismo e, mais importante de tudo, dedicação das pessoas envolvidas no projeto.

Perfil:

Nome: Lilian Cristina Lopes Gonçalves

Data de nascimento: 25/04/1979 (33 anos)

Naturalidade: Sorocaba, São Paulo, Brasil

Clubes: Minercal Sorocaba, BCN, Arcor Santo André, Campos-RJ, Unimed Americana, Unimed Ourinhos, São Bernardo Metodista, Santo André Semasa e AD Vagos.

Títulos nacionais: Taça de Portugal em 2012 e 2 Taças Vítor Hugo em 2011 e 2012 (AD Vagos); Campeã Brasileira em 2003 (Unimed Americana) e em 2005 e 2006 (Unimed Ourinhos); campeã Paulista em 1997 e 1998 (Associação Desportiva Classista BCN), 2003 (Unimed Americana) e em 2005 e 2006 (Unimed Ourinhos); campeã dos Jogos Abertos Brasileiros em 2002 (Campos Automóvel Clube); campeã dos Jogos Abertos do Interior do Estado de São Paulo em 2001 (Arcor Santo André), 2006 (Unimed Ourinhos) e 2009 (Santo André); campeã dos Jogos Regionais em 2007 e 2008 (São Bernardo/Metodista/Associação) e em 2009 e 2010 (Santo André)

Seleções: medalha de bronze nos JO de Sidnei (2000); medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo (2003); 4°Lugar nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg (1999)

Hobbies:Sou uma pessoa tranquila. Gosto de estar em casa... vendo um bom filme.

Fonte: Associação Desportiva de Vagos

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa reportagem, vcs estão de parabens pois a Lilian é sem duvida nenhuma uma grande e exemplar atleta e merece toda a nossa homenagem e respeito

Anônimo disse...

Muito obrigado pelo comentário à reportagem e tem toda a razão: a Lilian é uma senhora dentro e fora da quadra. onfira o seu profissionalismo numa sessão fotográfica na página do Facebook da AD Vagos. João Vieira, Assessor de Comunicação da AD Vagos

Prof. Marco Chaves disse...

Parabéns pela matéria Bert, sempre bom divulgar o trabalho das atletas que estão atuando fora do Brasil, importante para elas que vão em busca de oportunidades e experiência internacional, e para comunidade do basquete que torce pelo sucesso delas.

Abraço