sábado, 26 de janeiro de 2013

'Rodeada de amor', Iziane busca volta por cima no time que ajudou a criar

Quando a bola subir para Maranhão Clube e Sport Recife, neste domingo, às 10h, no Ginásio Castelinho, em São Luís, Iziane estará consciente de que não precisará ficar em quadra tanto tempo quanto na edição passada da Liga de Basquete Feminino (LBF). Desta vez, a cestinha daquela competição terá com quem dividir a responsabilidade. E "um minuto" para descansar, como destacou em entrevista por telefone ao GLOBOESPORTE.COM. O time formado às pressas ao redor dela foi bastante reforçado. Damiris, Chuca, Betânia e Putin chegaram do vice-campeão Ourinhos e tornaram o Maranhão um dos favoritos ao título da LBF 2013, ao lado de Americana e do Sport.
Assim como deverá ser em quadra, fora dela, a ala-armadora de 30 anos também trabalhou menos para montar o time que, segundo ela, nem teria virado realidade sem a sua atuação nos bastidores, no primeiro ano de vida.
 
- (O time) Não existiria. Eu fui atrás de um patrocinador, de quem apoiasse o projeto. Fui a criadora do Maranhão Basquete. Ano passado, junto a empresários, consegui tirar o time do papel - disse Iziane.
 
Em relação ao ano que passou - campanhas fracas na LBF e WNBA, e o corte polêmico da seleção brasileira antes dos Jogos de Londres -, a filha de São Luís só espera repetir o apoio da torcida maranhense.

- Havia quatro mil pessoas no ginásio e duas mil do lado de fora querendo entrar. É ótimo estar rodeada de amor.
Confira abaixo o bate-papo na íntegra.
 
Como você vê o basquete feminino brasileiro? E qual a importância da LBF no fortalecimento da modalidade? O basquete vem melhorando e a liga engloba o Brasil inteiro. É a liga que lhe dá visibilidade. O país precisa aumentar o número de praticantes. Não adianta jogar só o campeonato paulista, que o resto do país não vê. Apesar de poucas equipes na LBF, acho que o nível técnico está maior do que o do ano passado. Mas é uma pena que tenham menos equipes e que algumas estejam com problemas financeiros. Temos que aproveitar esse momento do esporte no Brasil, com Copa do Mundo e Olimpíadas.
 
Qual o seu papel no Maranhão Basquete fora de quadra? Sem você ele existiria? Não existiria. Eu fui atrás de um patrocinador, de quem apoiasse o projeto. Fui a criadora do Maranhão Basquete. Ano passado, junto a empresários, consegui tirar o time do papel. Tive que ajudar mais do que imaginava. Fui atrás das jogadoras, vi quadra de treinamento e o ginásio, a parte burocrática, hospedagem. Esse ano já conseguimos andar com as próprias pernas. Esse ano praticamente não atuei nos bastidores. Sei o que acontece, tenho reuniões com os diretores técnicos, mas não participei das contratações. Isso ficou na mão do técnico e do presidente do clube.
 
Na LBF do ano passado, o Maranhão foi a última equipe a ser formada, teve dificuldades de entrosamento e acabou em sexto lugar. Como foi a preparação desta vez?
O time foi formado antes e conseguiu escolher as jogadoras. Ano passado pegamos quem estava livre. Acho que esse ano a gente vai lutar pelos primeiros lugares. As equipes de São Paulo vão ter mais facilidade porque treinam o ano inteiro e disputam mais competições. Somos formadas só para esta Liga. Mas como o time é mais experiente, não precisa de tanto treinamento. No elenco, destaco a Chuca, que atua sempre bem em clubes no Brasil, e a Damiris. Tentamos a Joice, mas ela não quis sair de Ourinhos.
 
Mesmo com um time montado às pressas, você foi a cestinha disparada da competição - 509 pontos, média de 26,8 por jogo. Também foi a segunda jogadora a ficar mais tempo em quadra: média de 37,5 minutos por partida. No Maranhão você se sente mais liberdade para jogar? Betinho Lima, treinador do Maranhão, se sentia à vontade para lhe tirar de quadra?
Ano passado a equipe era sobrecarregada em mim. Eu não tinha apoio em outra jogadora. E meu técnico não se sentia à vontade para me tirar de quadra. Então, a minha permanência em quadra era maior. Boa parte das jogadoras era nova, menos de 20 anos, e as duas estrangeiras não ajudaram. Não era a intenção. Não tenho mais 20 anos para ficar em quadra. Tenho que ter um quarto para descansar. Eu e o treinador temos uma relação muito boa, conversamos sobre isso. Às vezes estava muito cansada e pedia um minuto.
 
Como é a participação da torcida maranhense nos jogos e a sua relação com ela? Ano passado chamei toda a família para ir aos jogos. Minha mãe tem sete irmãos, meu pai também. Eles “lotariam” o ginásio. Mas acabou que foi um sucesso. Havia quatro mil pessoas no ginásio e duas mil do lado de fora querendo entrar. É ótimo estar rodeada de amor. As pessoas me assediam, sabem da minha história, de como é difícil uma pessoa daqui vencer. Eles me consideram da própria família. Outro dia estava no shopping com o meu sobrinho, e quando vi estava cercada de pessoas pedindo autógrafo.
 
Como você vê o esporte no Maranhão?
Está melhorando, mas poderia ser muito melhor. Temos pouco incentivo. Tanto que o nosso futebol, que é o carro chefe, não passa da Série D. Agora que conseguimos ir para a C, com o Sampaio Corrêa. Precisamos abrir mais praças e desenvolver projetos em todo o estado para desenvolver o talento das crianças. Com a necessidade de estudar e trabalhar, as pessoas estão deixando o esporte de lado. Sempre estudei, terminei o segundo grau e agora estou fazendo faculdade de administração.
 
A temporada passada da WNBA foi a sua pior em dez participações. O Washington Mystics venceu apenas cinco vezes em 34 jogos e ficou em último lugar. Você jogou apenas 11 vezes e teve média de 3,1 pontos por jogo. O que aconteceu? As opções que eu tinha eram de equipes que precisavam subir de produção, dentre elas o Washington. Já sabia que o time era fraco, por ter feito várias trocas para tentar se fortalecer. Não fui tão usada como gostaria. Cheguei depois de a temporada começar, mas pela necessidade da equipe esperava ajudar um pouco mais. Acabou sendo por opção técnica. A treinadora disse que não queria me expor sem eu estar por dentro do jogo do time. Estava jogando cinco playoffs seguidos, fui campeã de confederação duas vezes...
 
Vai continuar neste time?
Já tínhamos feito um acordo para jogar o final da liga e mais os dois anos por lá. Só que a treinadora saiu e agora depende do que o novo treinador pretender.

Fonte: Globo Esporte

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