segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Hortência: 'O basquete brasileiro parou no tempo' (A Tarde)

Diego Adams

A poucos dias de a Seleção Brasileira masculina e, também, feminina de basquete estrearem em torneios mundiais da categoria, a eterna rainha do basquete nacional, Hortência Marcari, conversou por telefone com a reportagem do A TARDE Esporte Clube. No bate-papo,  ela falou sobre suas  expectativas para o desempenho dos homens na Copa do Mundo da Espanha (a partir do dia 30) e das mulheres no Mundial da Turquia (entre 27/9 e 5/10). Para Hortência, o time comandado pelo argentino  Rubén Magnano  e que tem o pivô Tiago Splitter como um dos destaques  é "um dos selecionados nacionais mais fortes" visto por ela. Após ficar à frente da diretoria de seleções femininas por quatro anos (2009-2013), a ex-jogadora fez ainda um balanço de seu desempenho como dirigente  e, sem papas na língua, criticou a Confederação Brasileira de Basquete (CBB).

A Seleção Brasileira masculina de basquete estreia no Mundial da Espanha no sábado (contra a França). Qual sua expectativa para o desempenho do time?

É a melhor! A Seleção masculina é muito boa. Uma das melhores da nossa história, senão a melhor que já tivemos até aqui.

Por que tamanha confiança?

(risos) São pequenos detalhes. Ao meu ver, temos uma comissão técnica muito bacana, um técnico legal (o argentino  Rubén Magnano), com experiência... um preparador físico (Diego Miceli) muito bom e um grupo muito bem montado. É a melhor Seleção (do Brasil) que já vi no papel. Óbvio que teve a geração do Oscar, e ele foi maravilhoso, é hors concours, mas esta Seleção é a melhor que vi.

No último sábado, após o amistoso contra os Estados Unidos (um dos três preparatórios para o Mundial), o técnico Rubén Magnano afirmou: "não há titular no time"...

É exatamente isso que eu disse a você. A afirmação do Magnano corrobora com o meu pensamento. É a primeira vez que vejo uma equipe que não tem titular. Existem cinco (atletas) que saem jogando e um banco maravilhoso que pode ser trocado direto. No jogo seguinte, podem entrar outros cinco. Hoje, temos o privilégio de ter o Varejão no banco, mas ele não é reserva. No papel, há 12 jogadores que você pode utilizar de verdade, pode rodar muito. Isso faz a diferença em um campeonato tão corrido.

O fato de os Estados Unidos e Argentina, tidos como fortes candidatos ao título, irem ao mundial desfalcados de seus principais jogadores, torna o caminho brasileiro mais fácil?

Não é bem assim. Digo isso sempre. Não adianta se animar por conta dos desfalques dos outros. Está tudo globalizado. Para mim, o jogador que entrar, vai jogar bem. Não dá para contar com isso. Tivemos uma, duas  semanas de preparação, com jogos amistosos nos Estados Unidos, na Espanha... sabemos que alguns (jogadores do Brasil) não 'estão falando a mesma língua' ainda, mas acredito que, nesse período,  começaram a se entrosar e 'dialogar' melhor em quadra. O Brasil vai muito forte e competitivo para subir no pódio.

Em entrevista ao portal Terra, você teria afirmado que, ao contrário dos homens, a Seleção feminina de basquete não iria muito longe no Mundial da Turquia.  Por quê isso? Realmente acredita que a campanha será um fiasco?

Vamos analisar ponto por ponto. Não foi desta forma negativa que eu afirmei. Interpretaram um pouco diferente meu discurso. Mas é simples... há menos de um mês, o  COB (Comitê Olímpico Brasileiro) apresentou seu plano, sua meta para os Jogos Olímpicos do Rio-2016. A entidade aposta nas modalidades que podem ter chance de medalha. O COB está apostando alto para tentar colocar o Brasil entre os 10 primeiros países na colocação geral. No basquete, escolheram o masculino.

Não soou, em parte, como uma espécie de menosprezo do COB à Seleção feminina?

Não, não é isso. Eu acho que o COB está dando muitas condições para que o Brasil vá bem em 2016. Acho que nosso desempenho será muito bom. Tem o judô, que sempre brilha, ganha muitas medalhas; tem a ginástica; tem a natação.... Mas é aquela coisa: eu não vou ficar apostando em quem não tem condições, se não fizer isso não consegue ficar entre os dez primeiros no geral dos Jogos do Rio. Para que realmente suba ao pódio, é preciso estratégia. Não tem certo, nem errado. Eu concordo com o COB: precisa investir em quem você realmente acredita que possa dar certo.

Você não se sente um pouco 'culpada' por isso? Afinal, durante quatro anos você esteve à frente da diretoria de seleções femininas do basquete brasileiro. Nesse período, o Brasil ficou em nono lugar tanto em Londres-2012 quanto no Mundial na República Tcheca.

Não, de forma alguma... Na verdade, alcancei todas as metas que foram estabelecidas. Neste período, a única coisa que não foi boa, foi a campanha no Mundial Sub-17 de 2012, quando ficamos em penúltimo. Tínhamos todo um projeto de viagens e treinos preparatórios bem elaborados, semelhante ao da Seleção Sub-19 que ganhou bronze no Chile (em 2011). O Ministério do Esporte havia aprovado e nos disponibilizaria a verba, mas não foi liberada porque a CBB falhou na prestação de contas da Sub-19. Sem dinheiro complica, né? Eu não tinha poder para pegar esse recurso. Infelizmente, obedecia a uma hierarquia e isso acabou atrapalhando alguns projetos.

Como vê  o cenário atual do basquete brasileiro?

O basquete brasileiro parou no tempo. A  gestão na CBB se 'profissionalizou'. Mas isso não diz muita coisa, já que há setores (da CBB) que seguem no amadorismo. Aí, fica naquilo... apesar de termos alguns avanços, com duas boas ligas: a Liga Nacional de Basquete (NBB) e a Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB), de termos as seleções ganhando títulos, os clubes, por sua vez, continuam com problemas. Aí, você me pergunta: não seria falta de patrocinadores? O 'xis' da questão é esse. Os empresários  não querem expor sua marca por apenas três, quatro meses durante a Liga por exemplo... querem algo a longo prazo, num clube que invista em projetos sociais. Senão, ele (patrocinador) não confia, fica na dúvida e não investe. Então, de cara, precisamos resgatar essa confiança e para isso, uma total profissionalização no topo da pirâmide,  na CBB.

Em 2014, o Brasil celebra vinte anos do título mundial feminino de basquete, na Austrália (na final, as brasileiras, com Hortência em quadra, venceram a China por 96 a 87). Qual é a sensação que fica quando você olha pra trás e se lembra desta memorável conquista?

É... ih, difícil, viu? Chega bate uma emoção ao falar sobre isso. Mas... é um alívio muito grande. Sinto-me, hoje, muito aliviada. Esta é a sensação. Mais do que felicidade, foi um alívio, pois era a nossa última chance de ser campeã do mundo, de marcar uma geração. Não tínhamos ganhado quase nada até aquele momento, só um Pan-Americano (de Havana, em 1991). No Mundial da Austrália começamos a jogar e vimos que poderíamos ir adiante, ir longe, chegar realmente ao patamar que todas nós queríamos. E deu no que deu. Ainda bem (risos). Ficamos na história.

Por conta, é claro, desta conquista, e outras, tanto você quanto Magic Paula ingressaram no Hall da Fama do basquete feminino. No último mês de  julho, a também companheira de vocês neste mundial em 94, Janeth Arcain, foi  eleita para a classe de 2015...

É emocionante. Na verdade, é apenas a oficialização do que todos nós já sabíamos. Janeth é uma mulher fora de série, vencedora. Fico muito feliz por ela e pelo basquete brasileiro, que terá mais uma atleta no Hall da Fama.

Em janeiro, você e Isabel Salgado, do vôlei, trabalharam na terceira temporada do 'The Ultimate Fighter Brasil: Em Busca de Campeões', um reality show  de vale tudo promovido pelo UFC, com 16 lutadores e dois técnicos,  o brasileiro Wanderlei Silva e norte-americano Chael Sonnen. Vocês acabaram sendo bastante criticadas pelo desconhecimento do esporte. Como foi lidar com isso?

Levei numa boa. Não entendo do esporte (MMA). A nossa participação ali era popularizar o MMA. A ideia era inserir também quem não conhecia profundamente as regras. Eu entendo de atleta. Então fui lá para ser a companheira, a amiga, conversar, dá conselhos antes e depois das lutas. Eu amei. Agradeço o convite que me fizeram. Torci muito com eles. Dei risada junto com eles. Sofri e chorei junto com eles. Foi muito gratificante. Agora, com a experiência, aprendi um pouquinho (risos).

E como era a relação com o polêmico Chael Sonnen,  conhecido pelas ofensas ao Brasil e as provocações pesadas a atletas como Anderson Silva e ao próprio Wanderlei Silva ?

Foi bem legal. No início, quando o Sonnen chegou (para gravar o programa), não há como negar que ele  tinha uma rejeição muito grande. Mas depois, ele reverteu a rejeição. As ofensas ficaram no passado. Ao meu ver, foi pura estratégia de marketing da parte dele. Gostei muito de ter estado na equipe dele. Não me arrependo. Aprendi muito com ele. Me ensinou bastante e me recebeu muito bem.

Por fim, e a briga entre o norte-americano e Wanderlei Silva durante o programa. Foi armada ou não?

Não foi. Foi  lamentável, porque jamais devia ter chegado aquele ponto. Os dois viram que fizeram besteira. Inclusive, o Sonnen pediu desculpas. Mas já passou.

No paradão

Aos políticos brasileiros, daria que nota?

Aí, varia. É preciso de uma análise profunda. Tem uns que merecem menos dez, já outros nota mil.

O basquete para você significa...

Tudo na minha vida. Graças ao basquete tive sucesso, fiz história, levei o nome do meu país ao lugar mais alto do pódio, fui exemplo para muitos jovens. Minha eterna paixão.

Um sonho

Que o basquete volte a ser no Brasil o que sempre foi: a terceira modalidade esportiva, atrás do futebol e do vôlei. Hoje, infelizmente não é mais.

Uma decepção

Não tenho.. zero decepções (risos)

Para o Brasil na Copa do Mundo -2014 daria nota...

Ih, rapaz.. tem que dar nota mesmo? Não dá para dar nota não.. horrível.

 

Fonte: A Tarde

5 comentários:

Anônimo disse...

Percebe-se o quanto a Hortência é sem noção pelas próprias palavras dela. Como uma seleção masculina que nunca ganhou nada até hoje e sabe-se lá se ganhará um dia, pode ser considerada a melhor de todos os tempos, se o Brasil já foi bicampeão mundial e três vezes medalha de bronze em Jogos Olímpicos? Mesmo a geração do Oscar e Marcel foi campeã no Pan de 87, quando o Pan era uma competição respeitada. Foi a primeira derrota na história de uma seleção americana com atletas profissionais da NBA e ainda por cima na casa deles. Totalmente sem noção.

Márcia disse...

Concordo. Irritante esse discurso da Hortência.

Anônimo disse...

Política. Pra variar...

Anônimo disse...

A Hortência desde que parou de jogar ficou muito politica e só pensando em beneficio próprio!
Gosta demais de aparecer, já teve oportunidade de fazer alguma coisa pelo basquete feminino e não fez, só fez caca na CBB.
Ela não representa mais o basquete feminino, temos que dar mais espaço para a Paula, Helen, Adriana, Érica e outras grandes jogadoras para enterrarmos de vez esta múmia.

Anônimo disse...

O nível das seleções de basquete feminino caiu muito. Rússia nem se classificou para o Mundial, teve uma geração inteira aposentada e sem reposição. França teve uma pivô titular aposentada, uma armadora da WNBA idem, as melhores atletas já estão no final da carreira e não teve renovação suficiente. Austrália também não é mais a mesma, com a aposentadoria da armadora titular, Lauren e Taylor com lesões acumuladas e já em fim de carreira também. O pódio olímpico está em aberto. Nesse cenário, não acho impossível o Brasil brigar por um bronze ou até por uma prata em 2016. Acho interessante que temos hoje na seleção responsabilidades mais divididas, os jogos não dependem de uma ou duas jogadoras apenas, então o conjunto do Brasil pode surpreender sim. Não sou falso patriota e acho que deveríamos fazer como outros países, Espanha, França, Rússia, Austrália e praticamente todas as europeias e negociar com uma americana para naturalização, reforçando ainda mais a seleção brasileira. O impacto positivo de uma medalha olímpica em casa poderia gerar uma revolução no basquete feminino. Vale a pena investir, acreditar e fazer tudo o que estiver ao alcance para conseguir esse feito. Claro que para a Hortência pegaria mal, a seleção melhorar, depois de quatro anos da gestão dela com tantos resultados horríveis e polêmicas negativas, por isso não surpreende esses comentários. Está pensando nela e no fundo, torcendo contra, embora jamais vá admitir, mas para quem sabe ler nas entrelinhas, está nítido.